sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ainda sobre o tempo

E uma grande lição para mim, que acho sempre que o tempo tem de dar para tudo. Que fico nervosa e desiludida quando não consigo fazer tudo a que me proponho.
 
"É-nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo, tendencialmente ininterrupto, que devemos esticar e levar ao limite. A maioria de nós vive nessa linha de fronteira, em esforçada e insatisfeita cadência, a desejar, no fundo, que a vida seja o que ela não é: que as horas do dia sejam mais e maiores, que a noite não adormeça nunca, que os fins-de-semana cheguem para salvar-nos a face diante de tudo o que fica adiado. Quantas vezes damos por nós a concordar automaticamente com o lugar comum: "Precisava que o dia tivesse quarenta e oito horas" ou "precisava de meses de quarenta dias". Desconfio que não seja isso exatamente que precisamos. Bastaria, aliás, reparar nos efeitos colaterais das nossas vidas sobrecarregadas, no que fica para trás, no que deixámos por dizer ou acompanhar. Sem darmos bem conta, à medida que os picos de atividade se agigantam, as nossas casas vão se assemelhando a casas devolutas, esvaziadas de verdadeira presença; a língua que falamos torna-se incompreensível como uma língua sem falantes no mundo mais próximo; e mesmo que habitemos a mesma geografia e as mesmas relações, parece que, de repente, isso deixou de ser para nós uma pátria e tornou-se numa espécie de terra de ninguém.
 O ponto de sabedoria é aceitar que o tempo não estica, que ele é incrivelmente breve e, que por isso, temos de vivê-lo com o equilíbrio possível. Não nos podemos iludir com a lógica das compensações: que o tempo que roubamos, por exemplo, às pessoas que amamos, procuraremos devolvê-lo de outra maneira, organizando um programa ou comprando-lhes isto ou aquilo; ou o que retiramos ao repouso e à contemplação vamos tentar compensar numas férias extravagantes. A gestão de tempo é uma aprendizagem que, como indivíduos e como sociedade, precisamos de fazer.
 Nisto do tempo, por vezes, é mais importante saber acabar do que começar, e mais vital suspender do que continuar. [...] Aceitar que não atingimos todos os objetivos que nos tínhamos proposto. Aceitar que aquilo aonde chegamos é ainda uma versão provisória, inacabada, cheia de imperfeições. Aceitar que nos faltam as forças, que há uma frescura de pensamentos que não obtemos mecanicamente pela mera insistência. Aceitar porventura que amanhã teremos de recomeçar do zero e pela enésima vez.
 Creio que o momento de viragem acontece quando olhamos de outra forma para o inacabado, não apenas como indicador ou sintoma de carência, mas condição inexcusável do próprio ser. Ser é habitar, em criativa continuação, o seu próprio inacabado e o do mundo. O inacabado liga-se, é verdade, com o vocabulário da vulnerabilidade, mas também (e eu diria, sobretudo) com a experiência de reversibilidade e reciprocidade. A vida de cada um de nós não basta a si mesma: precisaremos sempre do olhar do outro, que é um olhar outro, que nos mira de um outro ângulo, com uma outra perspetiva e outro humor. A vida só por intermitências se resolve individualmente, pois o seu sentido só se alcança na partilha e no dom."
in O Hipopótamo de Deus
- José Tolentino Mendonça -
 
A inspiração vem daqui, de um blog que adoro.
 
 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Tenho sono. Muito sono.

Eu queria muito ser daquelas que acorda com muito, muito tempo. Que prepara pequenos-almoços deliciosos (senhores, vejo cada receita de panquecas, deliciosas, saudáveis, light…). Que tem tempo para dizer bom dia à luz que entra na cozinha logo pela manhã. Mas não. Pois que não sou. Mas era. Era daquelas que acordava às 7h sem despertador. Todos os santos dias (fins-de-semana incluídos). Mas que agora me dá um sono terrível?
À noite é ver-me a fechar os olhos e morrer para o mundo antes da meia-noite. E de manhã é não querer abrir os olhos e viver para o mundo antes das 8h. Se me deixassem, ficava até às 9h. Mas tenho de trabalhar. Pois. Um pequeno detalhe. Vai daí, acordo à pressa e não tenho tempo para preparar excelentes pequenos-almoços. Fico-me pela caneca de leite de aveia (frio, adoro leite frio) e misturo uns cereais integrais com sementes de chia e linhaça. Quando me lembro, solto por cima uns morangos ou kiwi.
Agora que penso nisso, talvez seja porque deixei de tomar café. Pois.
Por isso, ou passo a deitar-me às 10 da noite, ou então vou continuar a ir para a cozinha com os olhos pequenos pequenitos.



quarta-feira, 16 de julho de 2014

Village, chickens and warm cakes #2

Cheguei a tomar banho numa bacia de plástico, grande, com água aquecida numa panela na lareira. Cheguei a fazer colares e colares de flores para pendurar ao pescoço ou na cabeça. Cheguei a inventar muitos jogos e brincadeiras para preencher os 3 meses de férias que pareciam 6 naquela aldeia nascida num vale.
 








terça-feira, 15 de julho de 2014

projecto casa – ideias a ter em conta que isto agora é mesmo a sério | 19

De todas as imagens que encontro e vou colocando aqui, vou apanhando um ou outro detalhe para a nossa casa nova. Uma ideia para a cozinha, umas escadas parecidas, a casa de banho que queremos o mais clean possível. Branco, madeira e luz, muita luz.

 









segunda-feira, 14 de julho de 2014

CAFÉ.


Impossível deixar. Impossível não sentir a falta que faz. De manhã consigo. Depois do almoço nem por isso.
É entre um café quente, um ar condicionado a soprar frio e uma segunda que ainda bem que já vai na tarde, que escrevinho, e sonho, e idealizo sempre qualquer coisa.
Soubesse eu desenhar. Sei escrever e fazer listas. É o que faço.
Penso sempre no 100% português, nesta dedicação à pátria que me define. Vejo imagens, leio histórias, emociono-me ao ler o sucesso que vão tendo.
Café. O meu bálsamo de imaginação.
 
 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Village, chickens and warm cakes #1

Se eu fosse minimalista, e desprendida das coisas, e morasse no campo, era assim que me imaginava a viver.
Para quem acha que este estilo de vida é fácil, não é. A sério que não é.
Há sempre muita coisa a fazer, a tratar, animais a alimentar, lenha para apanhar.
Mas que seria da vida sem uma boa dose de trabalho? :)

A inspiração vem daqui.









sexta-feira, 4 de julho de 2014

Sexta-feira é dia de prosa e poesia #1

Pegou delicadamente no cigarro com aqueles dedos curtos e escuros de quem fica morena com um pequeno raio de sol. Colou-se-lhe aos lábios discretamente pintados de vermelho aquela base castanha clara, aquele início de cigarro que fica sempre para contar as suas histórias, para ser atirado ao chão e calcado naquele alpendre com chão de pedra, ou para ser deixado no cinzeiro de cristal pousado no mesmo sítio há anos. Uma chama apareceu, gasta pelo penúltimo fósforo daquela caixa de papel comprada em Viena. E logo voltou a desapareceu sem dar tempo para aquecer a sala. Ou os dedos.
A chuva inundava os vidros da sala e ouvia-se de vez em quando uma porta a bater. O gato pousou-se-lhe no colo, largou pêlos pretos nas pernas nuas e frias de quem se sentia bem em andar apenas de robe de seda pela casa.
Sentada no cadeirão velho de tecido escocês, cruzou a perna esquerda sobre a direita e fixou o olhar nas gotas de água da janela. Lentamente, fumou. Foi fumando. Sem pressas, sem pensar em nada, sem sentir o frio que descia por aquela escadaria de madeira escura. Passou a mão nos frágeis e escuros cabelos desalinhados de quem acordou e nem se viu ao espelho, e afastou-o, um pouco apenas. Lentamente, fumou. Foi fumando. Misturavam-se os sons do ronronar do gato, do vento, da tília do jardim que parecia querer fugir, do silêncio da sala e do cigarro a acabar-se ou a começar-se.
Ao fundo, num canto da sala dedicado à sétima arte, conviviam discos em vinil com cd’s, cassetes de vídeo com dvd’s. Levantou-se, o gato saltou para o parapeito da janela, apertou um pouco o robe, segurou apenas com os lábios o cigarro e, com as mãos, escolheu, puxou e colocou um disco no rádio antigo comprado numa feira que não se lembra onde. Riscado, velho, combinava com o soalho, e o som entrava em cada buraco daquela tábua. Lentamente, fumou. Foi fumando. Voltou a sentar-se e a sentir a chuva.
O cigarro acabou, e com ele a chuva e a música. Viu um raio de sol a entrar naquele vidro banhado em água e abriu a porta. Descalça, quis sentir a chuva no chão de pedra do alpendre. E assim ficou, aquecida pelo sol e pela felicidade que lhe inundava a alma.

 

O papel é mais que uma simples folha. É arte que ali nasce.

Escrevo ainda em papel. Escrevi este texto em papel. Gosto do cheiro do papel, de folhear folha a folha. Gosto da perfeição da letra nas primeiras páginas.
Sempre fui assim. Era daquelas que passava cadernos a limpo. Era daquelas com cadernos impecáveis, que por serem assim (e eu ser assim) me custava emprestar só com medo que mos estragassem. Também não gostava de pedir emprestado, pois achava tudo uma “gatafunhice”. E talvez por isso, nunca tenha faltado às aulas. Nem mesmo quando me deitava às 6h para acordar às 7h. Adiante.
Sempre tive uma forte relação com “o compromisso”. Por educação e por feitio, julgo eu. Muitas vezes deixei de me divertir tanto quanto gostaria pois pairava no ar as palavras da minha mãe quando, antes de sair para a escola, ou durante as refeições, me dizia: “minha menina, a escola é para estudar. Tu porta-te sempre bem”. E eu estudava, e portava. Depois, depois quis o destino que eu passasse a minha vida académica no Porto e aí as coisas puderam ter um bocadinho mais de folga. Na verdade, o meu espírito livre e aventureiro viu nesta mudança para a grande cidade a sua grande vontade de crescer, arriscar, aprender. A oportunidade de ser mais eu, de cair e voltar a levantar. De perceber como as pessoas eram feitas.
A minha personalidade moldou-se, foi-se moldando. Consegui manter o espírito livre de quem corre descalça e sem medos no campo, pisando a terra e fazendo muito pó para quem vem atrás; o respeito pelas pessoas da terra, de mãos sujas e ásperas, com unhas da cor do chão. Consegui transportar para a cidade a liberdade da menina da aldeia, sem medo de nada, sem bloqueios. Mas consegui também aprender a ser mulher, a ter etiquetas, a desenrascar-me em tudo quanto era sítio e situação. Como tinha muito tempo livre entre a última aula e a próxima camioneta, vagueava pelo Porto, metia-me nas bibliotecas, observava as pessoas na rua. Tinha tempo e mais que tempo para sonhar.
Sophia de Mello Breyner Andresen afirmava que a sua poesia lhe acontecia, como a Fernando Pessoa que dizia: «Aconteceu-me um poema». A mim, a vida foi-me acontecendo, sem que eu forçasse nada para tal feito. Foi-me ensinando e espero que continue a ensinar. Porque na verdade continuo a ser aquela menina da aldeia que sobrevoava as gentes do Porto e as estantes de livros da Biblioteca Municipal.

 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

andar numa correria neste verão que não começou quente

Acordar às 7h, 7h15.
Dias muito, muito preenchidos e por vezes compridos.
Casa já quase na 2ª laje.
Decisões ainda por tomar em alguns pormenores de decoração que são já cruciais nesta fase.
Férias, praia, bolas de berlim, só daqui a cerca de 1 mês.
Mas a agenda anda organizada como deve de ser. E isso deixa-me tranquila.
Andamos bem. Muito trabalho mas felizes. Muito felizes!