Com toda a certeza já devem ter visto nas livrarias uns cadernos de lombada larga, parecendo ter sido cosidos à mão. São Os Cadernos de Pickwick, uma belíssima edição Tinta-da-China.
Apesar de ainda não os ter lido (mas prometo que vou ler), descobri que Pickwick era um homem sem pressas, não fazia parte do seu carácter perder a paciência ou entrar em desespero. É o tipo de homem que está disposto a passar o resto da sua vida numa prisão de devedores, apenas por princípio, apesar de ter mais do que dinheiro para pagar uma dívida que considera injusta.
Depois de ler isto, julgo não me poder comparar a Pickwick, se a Pickwick chamássemos um homem lento, ou melhor ainda, vagaroso. Na verdade não sou.
Mas invejo sobretudo a forma como ele lia devagar, sem pressas. Tal como à mesa, ou na cama antes de sair de casa pela manhã, não pensava nunca num futuro demasiado próximo. E eu penso o quanto gostava de ser assim. De ler devagar, sublinhar, voltar a ler, devorar as palavras e perceber cada uma delas como se fosse a última vez que as lia. Gostava de me sentar à mesa e saborear cada garfada, devagar, parar, pousar os talheres, mastigar, voltar a pegar nos talheres e voltar a saborear. De me deitar e não pensar demasiado no futuro e de me levantar, espreguiçar e não pensar no depois. Gostava de ser mais justa. Apesar de ter perdido o hábito de fazer uma oração à noite, as raras vezes que a faço peço sempre para ser uma pessoa melhor. Viver, calmamente, cada momento. Imaginem que às vezes ainda não acabei um livro (nem a meio vou) e já me questiono sobre qual vou ler a seguir! E era nisto que eu gostava de me assemelhar ao Sr. Pickwick.
Não tenho as chamadas must-reads, apesar de ter listas e listinhas para tudo e mais alguma coisa. Tento dividir a minha atenção por temas variados no que respeita aos livros. E pego em qualquer um. Gosto muito de entrar em livrarias, bibliotecas, alfarrabistas. Gosto do cheiro dos livros quando os desfolho e de enterrar o meu nariz em cada folha para descobrir o seu cheiro.
Mas apesar de não ter as must-reads, Os Cadernos de Pickwick farão parte da minha lista para 2014 (isto eu gosto, de listas de objectivos vs compras vs ideias para o próximo ano)!
Ricardo Araújo Pereira qualifica o Sr. Pickwick como imortal. Talvez eu não queira ser imortal. Talvez só queira que as minhas palavras, mas principalmente as minhas boas acções se tornem imortais. Talvez eu só queira ser uma pessoa melhor, com a calma do Sr. Pickwick.