Eu não quero uma casa perfeita, sem riscos ou risos das
crianças, sem brinquedos pelo chão, sem pequenas migalhas. Eu não quero uma casa de revista, sempre impecável, sempre
limpa, sempre organizada. Não quero porque: isso nunca será possível com crianças em
casa; isso não é o meu lema de vida; isso só existe no instragram, facebook e
revistas.
Eu quero uma casa onde se viva. Onde se ouçam gritos e
cantorias dos mais pequenos. Onde na cozinha tenha um quadro de lousa para os
mais estranhos desenhos e recados. Onde nos chateemos e façamos as pazes. Onde
os miúdos possam correr, brincar, chorar, gritar, dormir, repousar. Onde
plantemos todos juntos plantas nos vasos e as reguemos, como se ao amor
estivéssemos a dar de beber. Onde exista cheiro a grelhados da churrasqueira.
Onde se coloque a abóbora no muro no dia 31 de Outubro e as velas para a
procissão no dia da festa. Onde possamos todos ser felizes, muito felizes. Sem
complicações. Sem exigir muito dos outros nem da casa.