quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Ter um filho dói

A Sofia nasceu de cesariana. Não tive quase nenhuma contracção, o dia foi mais ou menos definido com antecedência e na hora estipulada, depois de algumas tentativas para nascer de parto natural, fomos para a sala de operações. Em meia-hora tinha a minha menina nos braços, perfeita.
A dor que quero falar aqui não é esta dor, a do parto ou das contracções. É uma dor bem pior, bem mais lenta e sem qualquer anestesia ou epidural que lhe valha. É a chamada dor de amor. Pelos filhos.
Sempre evitei ver vídeos ou ler noticias tristes. Aliás, eu sou defensora que devia existir um canal só sobre felicidade, com noticias boas. Ou um jornal, sei lá. Não é querer fugir aos problemas, esquecer-me dos que sofrem ou não estar atenta às desgraças do mundo. Simplesmente, acho que nos devemos rodear de pensamentos positivos. E se antes até via um ou outro vídeo de histórias menos felizes, e falo principalmente sobre crianças, agora, que sou mãe, é que não consigo ver mesmo. Fica um nó na garganta, os olhos enchem-se de lágrimas, a emoção avança desmedida, o coração pula e pula de tristeza. É uma angustia tão grande que faço pause, fecho a janela e vagueio pelo Pinterest. Lá há sempre imagens tão boas.
Todos os dias, depois das 21h00, enquanto arrumo o cesto de roupa passada ou arranjo a roupa para o dia seguinte, passo por aquele quarto iluminado por um candeeiro com luz fraca e lá está ela, calma, serena, com os olhinhos verdes fechados e os caracóis a cobrirem-lhe o rosto. Entro, com pés em forma de penas, e afasto os seus cabelos para lhe ver o rosto. Não há nada mais belo do que ver um filho a dormir. Por vezes fico ali parada a absorver todo esse momento. Não sei o tempo que passa. Passa muito ou passa pouco. O tempo pára. E eu agradeço-Lhe.
 
Ter um filho dói. Dói tanto que não se consegue explicar muito bem que tipo de dor é esta.