terça-feira, 15 de dezembro de 2015

pertencer

 
 
Na verdade, não sei se pertenço ao campo ou à cidade. Se por um lado, desde muito cedo, tinha vontade de sair da aldeia e conhecer a cidade e o mundo, por outro há qualquer coisa que me liga às raízes, que não me faz esquecer o sítio de onde vim, onde fui criada, onde estão as pessoas que me criaram, onde está praticamente toda a minha família.
A divisão instala-se em mim como uma dúvida existencial. Não sei onde pertenço, onde me sinto melhor. Julgo que sou uma menina do mundo. Adapto-me tão facilmente aos sítios onde estou, onde vou, onde vivo, que me atrevo a dizer que estou bem em qualquer lugar, desde que esteja feliz.
Atrai-me a calma, quietude, simplicidade, ingenuidade dos vales e montes que me fizeram mulher. Daquele orvalho nas folhas do carvalho, da geada que nos faz escorregar na estrada, do frio que sai em forma de fumo do rio. Atrai-me a paciência, o fazer sem pressa, o dar sem pedir em troca. As ovelhas que pastam e os galos que cantam. As nuvens a tocar no alto da Santa Iria. O barulho das moto-serras, dos tractores, da carrinha que vende arcas de madeira, da buzina do padeiro, da Rosa a chamar alto e bom som o nome da filha, com aquelas goelas que abafam todas as música na capela, enquanto a pequena brinca na rua com os vizinhos: “Oh Saaaaaaara, anda para casa que se faz noite”.
Mas a cidade também me aquece o coração. A pressa, a correria, a facilidade com que se chega a tudo, o acesso a tantas e diversificadas coisas. O sair de casa e ter tudo à porta, não ter de pegar no carro, não ter de fazer compras mensais. O apetecer ir ao cinema, ao teatro, a uma exposição, a uma biblioteca, ao ginásio, e ir, sem andar muito, sem ter de sair de casa 1 hora antes. A magia da cidade, para mim, é mais do que uns simples prédios, amontoados uns nos outros. Consigo sempre parar, ao longe, e observar as passadeiras e o rebuliço vivido naquelas linhas brancas e pretas ao fim do dia. Ou de manhã. Imagino a vida de cada uma dessas pessoas. Onde vão, com quem vão.
Na verdade, não sei se pertenço ao campo ou à cidade. Mas isso não importa. Quero sobretudo viver com o coração onde quer que esteja, de peito aberto, de alma pura. Quero ser feliz em qualquer lado. E o meu maior desafio é conseguir sempre isso. Eu e os que me acompanham, nesta jornada que é a vida.
 
 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

renascer

 
 
2010 – Estocolmo e Copenhaga
 
Há um dia em que decides que mereces ser feliz. Há um dia em que queres viajar sozinha, encontrar-te, renascer, alinhavar sentimentos, fechar ciclos. Há um dia em que metes a mochila às costas, pegas em mapas, compras uma máquina fotográfica, rabiscas uns sítios para ir, enfias-te num avião e acordas noutro país. Há um dia em que todos os dias acordas cedo, exploras ruas que nunca trilhaste, tentas aprender uma língua nova, conheces pessoas que nunca viste. Há um dia em que todos os dias te deitas cedo, desligas o telemóvel, escreves, deitas a cabeça na almofada e descansas. Há um dia que olhas para o sol e agradeces, em que sentes a chuva na cara e suspiras, em que alugas uma bicicleta e vais, sem destino, sem horas, sem fim, pedalando e imaginando que também tu fazes parte daquela cidade, daquele modo de vida, daquela organização que faz tão bem e apetece ficar. Há um dia em que tens a certeza que a vida é maravilhosa, que há tanto para fazer e tanto para conhecer, que há alguém, algures, à tua espera. Que não conheces, nem sabes quem é. Mas tens a certeza, a certeza absoluta que, quando estás bem contigo própria, estarás bem com o resto do mundo. Encontrar-te e renascer. Assim.
 
2015 – Porto
 
Acordo, cedinho, e agradeço por tudo. Pela vida, pelas pessoas que apareceram na minha vida, pelos 5 anos bons, mas tão bons, que juntos estamos a viver. Acordo, cedinho, e olho para ti, para ela, para nós. Consigo imaginar-nos daqui a mais 5, e mais 5 e sempre a somar mais e muitos anos. Sei que quando fazemos bem, a vida agradece-nos. E sei que quando não contamos o melhor surge, sem avisar, sem bater à porta. Apareceste, naquele preciso momento em que estamos bem, em que sabemos o que queremos e onde queremos estar. Encontrar-te e renascer. Assim.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

celebrar

Naquele dia eu senti que a minha vida ía mudar para sempre. Quando olhei para ti, quando senti o frio a correr espinha acima, quando me aqueceste a alma com o beijo que se deu tarde, quando juntos dançamos na pista mesmo não sabendo dançar, quando tivemos a certeza que a partir daquela noite fariamos parte da vida um do outro.
5 anos. Tão pouco mas tão muito.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

ouvir


 
 
 
Quando estava grávida, enquanto trabalhava (e trabalhei até 2 semanas antes dela nascer) ouvia muita música. Diziam que fazia bem ao bebé e fazia-me bem também.
Ouvi música clássica, música mais comercial, mas, a música que eu gostava realmente de ouvir, era a “indie music”. Ainda hoje, por exemplo agora, enquanto ouço, arrepio-me e fico tão mas tão feliz. Porque me faz lembrar a gravidez, aqueles 9 meses tão mágicos e maravilhosos que vivi.
Julgo que já aqui referi, mas nunca é demais relembrar: adorei estar grávida. Foi tão mas tão bom que me apetece engravidar de novo. Não posso. Dizem (os livros e a minha ginecologista) que, depois de uma cesariana, devemos esperar pelo menos 2 anos. Esperarei então. Depois logo se vê.
Voltando à música, podem clicar aqui e ouvir a música que vos recomendo para este depois do almoço. Que vos faça sorrir como a mim faz. Que vos inspire e vos faça ter um dia para lá de feliz.
 
 
créditos da imagem: via pinterest


 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

contar

É hoje! 36 anos da minha vida. Acordei e ele e ela cantaram-me os parabéns. Ela bate palminhas e balança todo o seu corpo demonstrando toda a alegria e felicidade. E eu fico feliz por ela ser feliz e por fazê-lo a ele feliz. Basicamente, está a ser um dia normal, o que é bom. Recebi beijinhos, um casaco lindo de couro, mais beijinhos, um bolo de chocolate feito pelo meu irmão, palavras doces, mensagens e emails carregados de palavras boas que nos aquecem o coração neste dia frio de Novembro.
 
 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

aproveitar

Esta que vos escreve faz amanhã 36 anos. Por isso, durante o dia de hoje, tenciono gozar ao máximo os meus 35 anos. Considero que passar dos 35 para os 36 é envelhecer mais do que 1 ano. É mais do que isso. É como passar dos 29 para os 30 ou dos 39 para os 40. Há toda uma diferença este 35 e 36. Não é que ligue à idade, porque não ligo. E se me perguntam, repondo de imediato, sem rodeios nem receios, nem com a típica e parva pergunta: “que idade me dás”? Mas sinto que a partir de amanhã tudo vai ser diferente. Ou não!
Nasci num domingo, às 12h30, aquela hora em que a fome começa a apertar e já se comia qualquer coisinha, um assado por exemplo que afinal era domingo. Parto normal, gravidez saudável. Ou quase, e passo a contar. A minha mãe teve rubéola. Um susto, um grande susto, principalmente porque não havia ecografias (se calhar havia, mas não estava acessível a todos) nem exames específicos para perceber a gravidade do assunto. Ela deixou tudo ao cuidado de uma divindade em que ela acreditava, Deus. Houveram rezas, súplicas, terços a rodar pelos dedos ao som da ladainha das avé marias. Houve, sobretudo, esperança. E eu nasci, saudável, gordinha, cabeleira farta, pele escura de índia (agora sou mais clara, mas no verão ficou bem preta na praia, e não preciso de muito sol).
Hoje penso nisso, nessa esperança que ela teve e na coragem de avançar com tudo, enfrentando as palavras menos boas dos médicos, os alertas para o que poderia acontecer. Hoje penso nisso e agradeço-lhe por ter confiado na sua intuição, no seu amor por mim, no seu Deus.
35, quase 36, e estou aqui mulher feita. Também eu sempre cheia de esperança. Positiva, acima de tudo (tirando os dias em que não sou!). E isso agradeço a ela, minha mãe, e ao meu pai. Sempre sobrevoou naquela casa uma alegria imensa e a certeza que o amanhã iria ser ainda melhor que o hoje.
 
Sinto que a partir de amanhã tudo vai ser diferente. Ou então não!

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

despertar

O dia começa cedo, bem cedo. Às vezes às 6h, outras vezes às 6h30. Hoje às 5h já chorava, não sei se com fome, com frio, com calor, sem sono, com sono. O início da manhã é tudo menos calmo. Acordamos com ela (um doce de despertador, com o choro desesperado de fome). Dou-lhe de mamar (eu acho que já não sai nada, mas ela fica satisfeita. Além do mais ela detesta, odeia mesmo, o leite em pó que lhe comprei. Verdade seja dita, que eu provei só para perceber, aquilo não sabe nada bem). Depois visto-a e vamos tomar o pequeno-almoço. Até aqui tudo bem, ela brinca, dança, começa a bater as primeiras palmas quando lhe cantamos a música dos parabéns, dá enormes sorrisos com aparece o Panda na televisão. Mas depois, depois quando quero tomar banho, aí a coisa complica-se. O pai tem de sair para trabalhar, ou o trânsito condiciona-lhe a vida. Não posso desaparecer da vista dela 2 segundos, às vezes 1,  ou os gritos ouvem-se do primeiro ao último andar, e quem sabe no prédio em frente. Já tentei: colocá-la no parque que compramos e onde tem os bonecos preferidos dela, mas grita. Levar a cadeirinha da papa e colocar à porta da casa de banho, mas grita. Vestir-me com ela na sua cama, mas já se levanta, agarra-se às grades e começa a pular, a pular, a pular, até quase bater com a boca na madeira. Enfiá-la no carrinho bengala e andar com ela pela casa, a fazer as minhas coisas enquanto ela observa atentamente tudo. Esta é a que funciona melhor.
 
Já pensei em soluções, como acordar mais cedo que ela e arranjar-me antes dela acordar. Mas acordar a que horas? 5 da manhã? Por vezes o que faço é tomar banho à noite. De manhã é só vestir-me e sair. Se passaram por isto, se tiverem truques e dicas, serão muito apreciados por esta mãe que, apesar de amar muito a sua filha, só queria ter tempo para colocar, de vez em quando, um pouco de pó nas maçãs do rosto.
 
Bem vindos, caros leitores, à realidade de uma mãe normal, sem tempo para nada, principalmente para ela.
 
 
 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

cuidar



Inscrevi-me no Pilates e já fui a 5 aulas. Não tenho nem nunca tive elasticidade. Olho à minha volta e tudo chega com o dedo grande do pé a todo lado, menos eu. Estou empenada, rígida, a precisar mesmo muito de esticar. Para além do corpo flácido e de estar mais magra que o normal, sinto a pele a envelhecer. As razões são muitas: não dormir mais de 5 ou 6 horas por noite; deitar tarde; esquecer o creme de manhã; preguiça para o creme à noite. Enfim. Precisava de umas massagens, no rosto e corpo. Precisava de uma boa e valente limpeza e hidratação de rosto.
Lembrei-me da Wells. É pertinho pertinho de casa, temos sempre descontos e promoções associadas ao cartão continente, atendimento personalizado e, depois da minha pesquisa no site, os tratamentos que ando à procura.
Porque todas merecemos um miminho de vez em quando. Porque a nossa pele é tão importante. Porque o envelhecimento chega cada vez mais cedo.
Vou e depois conto.
Este não é um post patrocinado, para grande pena minha :)

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

decorar


 
 
O quarto dela será branco imaculado, com alguns apontamentos de cor, almofadas, uns quadros. Brinquedos simples, de madeira, outros antigos e recuperados.
Gosto de simplicidade.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

arriscar

 
Dar saltos de fé. Esperar que as asas que nos suportam a vida não cedam e se abram perante o céu imenso que temos pela frente.
Dar saltos de fé. Ter a coragem de arriscar, de pensar para além do óbvio. De sentir dor de barriga quando escrevemos as ideias no papel.
Dar saltos de fé. Ultrapassar cada poça de água, molhar os pés, secar os pés, enfiar umas meias quentes pelas pernas que teimosamente querem calcorrear a calçada da vida.
Dar saltos de fé. Não querer ficar no previsível, vivendo no certo e tendo medo do incerto.
Dar saltos de fé. Desejar colher os frutos do imenso trabalho de ter alguma coisa nossa. Querer plantar, escavacar, alisar a terra, regar, esperar.
Dar saltos de fé. Partilhar com o nosso amor maior os nossos maiores receios, medos, dificuldades, mas também os sonhos, projectos, anseios.
Dar saltos de fé. Não, não darei nenhum salto de fé, pelo menos por enquanto, porque não tenho coragem para tal.
 
Arriscar não é para todos. É para os corajosos. E eu, que tanto escrevo e tanto sonho, mas que nada passa do papel para a vida.
Talvez um dia, quem sabe. Talvez um dia.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

viver




Precisei de comprar o livro "A coragem de ser imperfeito". Precisei de perceber que erro muitas vezes, que sou normal e que não tenho intenção de ser anormal. Precisei que bater com a cabeça, de bater com os pés no chão, de bater com a porta que tem escrito "ser perfeito". Precisei de sentir que o caminho não era aquele, não, o caminho não era definitavamente aquele.
Tento, apesar de todas as dificuldades que sinto, parar de vez em quando para reflectir. Tento, pelo menos tento, não andar com a vida em modo velocidade furiosa. Por vezes lá me esqueço e regressa toda aquela ansiedade, a exigência, a preocupação, a necessidade de fazer bem.
 
As noites têm sido desgastantes. Não durmo mais de 2 horas seguidas. A Sofia acorda, chora, levanto-me, meto-lhe a chupeta, adormece. 30 minutos depois acorda, chora, levanto-me, meto-lhe a chupeta, adormece. Têm sido assim os últimos dias, ou melhor, últimas noites. A miúda, que sempre foi um autêntico anjo à noite, não dorme sossegada. Não sei se são os dentes (que ainda não tem), se é o nariz que fica sempre congestiado à noite. Sei que desgasta, cansa, esgota.
 
Os dias não são perfeitos. As noites muito longe disso. Não há tempo para nós. Não há tempo para namoros, para aquele corte de cabelo, para pintar as unhas de vermelho. Não há tempo para assados, para um bolo de maçã, para uma bebida à noite.
Mas isto é o que se chama de família perfeita, certo?
 
Apesar de tudo, e de todos os contratempos, olho para eles (para ele e para ela) e sinto o quanto os amo. Para isso há tempo. Para isso, o tempo parou, desde o dia que o vi, naquele dia 4 e desde o dia que a vi, naquele dia 24.
 
 Foto: no meu quarto, na minha aldeia, no dia do sim, num dos dias mais felizes da minha vida.

 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

DESEJAR

Novembro sempre foi um dos meus meses favoritos, a juntar a Setembro. É o mês do meu aniversário. É o mês da chuva a bater na janela (eu gosto, dá-me inspiração). É o mês dos banhos quentes e dos pijamas quentinhos.
Lembro-me de, no ano passado, estar com uma bonita barriga de 6 meses. Ano maravilhoso, esse de 2014. E ainda mais maravilhoso está a ser o de 2015.
Para celebrar os meus 36 anos, lembrei-me de procurar algumas coisas que gosto/preciso/não preciso mas gosto.
A minha wishlist para hoje é esta. Andei apenas a namorar coisas da Zara. Depois coloco outras marcas:






 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

CELEBRAR

17 de Outubro. O dia amanheceu quente, sem chuva. As previsões pincelavam o céu com nuvens escuras, com raios de trovoada e o alerta previa-se na cor amarela. Acordamos cedo, como de costume. A Sofia, sempre sorridente, sempre de bem com a vida, nem imaginava o grandioso dia que seria.
Às 15h00, hora de sairmos para a igreja, começou a chover, mas o calor manteve-se. O vento soprava forte, mas não era mais forte que a nossa vontade de fazer daquele dia um dos dias mais bonitos da nossa vida. A missa foi como ansiavamos, bela, emotiva, íntima. Ela não chorou, não reclamou, nem quando o padre lhe despejou quase toda a água benta pela cabeça abaixo. A festa foi como planeamos, divertida, com boa comida e em excelente companhia. As quase 130 pessoas que convidamos chegaram ao fim do dia felizes. E nós, com a nossa pequenina nos braços, cansada, estafada, cheia de sono, fomos os últimos a abandonar, já passavam das 23h30.
Chegamos a casa com a sensação de dever cumprido. Foram algumas semanas a preparar este dia. Foram muitos telefonemas, muitas pesquisas, algumas compras. Mas tudo correu bem. Só podia correr bem.
Deitamos a princesa, demos-lhe um beijinho na testa benzida e apagamos a luz. Acendemos a nossa, a luz que nos guia e nos proteje e nos diz que estamos no bom caminho. Juntos, com toda a certeza que assim somos mais fortes. Os 3, agora que somos 3.









sexta-feira, 23 de outubro de 2015

SENTIR

Belinda, Belinda, como são sábias as tuas palavras. Como me identifico com a paz, amor e ternura do que escreves. Correria de vida esta, quando na natureza encontramos tudo o que precisamos.



Filha, se puderes, fica. Fica neste país que é tão lindo. Fica, mas também podes ir, podes ir para onde queiras ir. Podes viajar, conhecer o mundo, mas antes de mais conhece-te a ti própria. Não viajes para tirar fotografias a viajar, viaja sim para dentro de ti, conhece-te através do mundo, das pessoas e dos lugares.

Filha, se puderes, fica. Fica, mas desliga a televisão. Quando puderes liga-a, mas liga-a apenas para veres a rtp2, não, desliga, desliga porque até aí, a cultura desapareceu. Se puderes, nunca vejas um telejornal, porque aí as pessoas vivem de emoções, porque aos veres o telejornal, não vais ser feliz, vais apenas viver as emoções dos outros, e não vais puder mudar o mundo. Se puderes, vai antes para a horta e aprende com os mais velhos o que eles melhor sabem fazer nesta terra onde cresceste, aprende a cultivar o que vais levar para a tua mesa. Aprende a viver os dias em ritmo com a natureza, com a lua e com o sol. Aprende a ser feliz e a mudar o teu próprio mundo. Vive apenas a tua vida e nunca a vida dos outros. Se puderes lê muitos livros. Nos livros cabe toda a sabedoria do mundo. E escolhe aqueles que te façam mais feliz e que ensinam que a chuva e os dias cinzentos também fazem falta.
 
Filha, se puderes, vê o sol nascer todos os dias e se puderes chega sempre cedo a casa, cuida dos teus e sê feliz com eles, não procures na rua a aprovação dos outros. Se puderes, vai ao teatro, ao cinema, aprende uma arte qualquer e, se puderes, partilha-a com os outros. 
 
Se puderes, sê feliz, não esperes que o teu país te faça feliz. A felicidade não está num lugar, a felicidade parte de ti em direção ao lugar onde estás. Podes procurar todos os lugares e, em todos eles, irás encontrar alegria e tristeza. Tu és quem terá de escolher com qual das duas queres viver. Mas se puderes viaja, se puderes fica. O nosso país é tão lindo, nele vais conhecer pessoas maravilhosas, paisagens fabulosas, tradições que valem a pena. Se puderes não te envergonhes do país que tens. Mas, se puderes, procura a verdadeira cultura que existe nas pessoas mais simples. Procura dançar as danças de roda, procura cantar as modas alentejanas, procura viver as tradições dos lugares onde vives. Nunca te envergonhes a dançar. Dança sempre como se toda a gente estivesse a olhar para ti e fá-los dançar contigo.

Filha, se puderes, fica. Os teus pais ficaram e escolheram uma forma mais simples de viver. Vivem sem luxos, vivem mais do amor do que do dinheiro e são felizes. A verdade é que fazem aquilo que os faz mais feliz e vivem sem pressas e com os sonhos nos braços. Vivem como se o agora fosse o mais importante. Mas filha, se puderes, vai, vai e procura o conforto, ele poderá fazer-te feliz, mas nunca te fará tão feliz quanto o amor. 
 
A verdade é que poucas pessoas entenderão o que os teus pais querem dizer, mas filha, se puderes, procura-te, vai bem dentro de ti e percebe todas as mágoas que porventura te deixámos. Trá-las todas cá para fora e deita-as ao mar ou à terra, nunca ao vento. Chora sempre que tiveres de chorar e ri em voz alta para toda a gente rir contigo. 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

VESTIR

Não está frio, ainda não está frio. Sente-se por vezes uma brisa quente. As noites ainda não são cobertas pelas mantas. Dá, em alguns dias, para andar de sapato sem meia.
Por mim, hoje era assim:

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

acelerar


a·ce·le·rar
(latim accelero, -are)



verbo transitivo
 
1. Tomar gradualmente mais rapidez.
2. Aumentar a velocidade ou a rapidez. = APRESSAR, APRESSURAR
3. Diminuir o tempo de espera ou de duração. = ABREVIAR, APRESSAR
4. Tornar mais intenso ou mais estimulado. = ACTIVAR, ESTIMULAR, INTENSIFICAR
 

 
Vivemos numa aceleração, e isso não é novidade para ninguém e poucos são os que não vivem. Vivemos porque queremos, porque não existe outra forma, porque os tempos modernos são assim? Talvez. Obviamente que não queremos este estilo de vida. Eu sei que existe muita gente que gosta, que fervilha por dentro quando as agendas transbordam, que só se dão bem com a vida completa. Também eu gosto de preencher a minha agenda. Mas existem formas de conseguirmos abrandar a correria louca e termos uma vida completa. E o que entender por uma vida completa? Difícil, não? Aqui também cada um tem a sua perspectiva. Portanto, vou dar a minha visão, a forma como eu gostava/imagino/sonho que seria uma vida perfeita. Não quer dizer que eu não tenha uma vida perfeita, porque até acho que tenho, nem quer dizer que muitas destas coisas eu não faça, porque faço, mas vou sonhar um bocadinho e fazer uma espécie de agenda, imaginária, se calhar difícil, mas perfeitamente possível na minha cabeça e nas pontas dos meus dedos enquanto escrevo.
 
7h00, acordar. Abrir a persiana e deixar entrar os primeiros raios de sol. Espreguiçar, agradecer pela vida, parar 1 minuto para meditar. Ir para a cozinha preparar o pequeno-almoço. Mesa posta de véspera, bonita, com toalha de linho e louça branca, flores numa jarra. Os 3, naquele silêncio que é necessário pela manhã. Sem televisão, com a primeira luz a acompanhar as primeiras palavras do dia. Tomar banho, rápido, um duche. Espalhar creme pelo corpo, não esquecer o rosto que precisa urgentemente de um anti-rugas, um bom anti-rugas. Vestir uma roupa bonita, pensada, e não a primeira que nos aparece à frente. Passar levemente um pó pela cara, um pouco de perfume. Noutros dias, colocar aquele baton vermelho.
8h00, sair. Deixar a pequenina na avó. Saber que ela fica sempre bem. Conduzir calmamente até ao trabalho.
8h30, café. Tomar o primeiro café da manhã. Começar a ler emails, responder, reencaminhar. O tempo passa, o trabalho fica feito.
16h00, voltar a sair, desta vez para casa. Ir buscar a pequenina, dar-lhe o lanche. Lancho eu também. Ir passear pelo bairro com ela. Comprar pão quente. Voltar a casa. Começar a preparar o jantar. Pensar em coisas boas, apetitosas. Cozinhar. Gostar de cozinhar.
18h00, o marido chega. Beijinhos e interrogações sobre como correu o dia.
19h00, dar banho à pequenina. Vestir-lhe o pijama, dar-lhe o leitinho e com um beijinho a deitamos.
19h30, agora nós. Banho relaxante, muito rápido, deve servir apenas para retirar “o dia” de nós e permitir que entre “a noite” em nós. Os dois na cozinha, um copo de vinho na bancada, forno ligado e o jantar quase pronto.
20h00, jantar. Silêncio, sem televisão. Falamos sobre o dia, sobre o próximo dia, sobre preocupações e suas soluções. Apertamos a mão um do outro e renasce a esperança que precisamos.
21h30, sofá. Agora sim, a televisão. As nossas séries preferidas, outras vezes programas que puxamos para trás.
22h30. Deitar. Ela dorme. O anjinho dorme bem à noite. Só acorda às 7h00, hora em que tudo o que escrevi recomeça.
E assim a vida é completa.
 
(vamos, por uns instantes, esquecer que no meio desta agenda existe o lavar roupa, estender roupa, passar a ferro, lavar louça, não ter grande experiência na cozinha, não saber o que fazer quando ela chora, apanhar os brinquedos do chão que ela insiste em atirar, mudar fraldas, limpar vómitos, não conseguir secar o cabelo porque ela tem medo do barulho, não conseguir passar a sopa porque ela tem medo do barulho, transito, roupa manchada pelas bolçadelas, cara sem creme há 2 dias. Vamos esquecer por uns instantes.)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

aceitar

Faz-me bem ver fotografias de pessoas a sorrir, de festas no campo ou na floresta, com candeeiros e luzes a iluminar a vida.
Faz-me bem ler palavras positivas, cheias de esperança no mundo, palavras que quando leio o mundo sorri, as nuvens afastam-se, a chuva pára, o sol brilha com toda a força.
Faz-me bem ouvir pessoas cheias de força, daquelas que não se cansam de dizer “vai correr tudo bem” ou “isso não é nada” ou “vai passar”.
Gosto de ler aqueles meus blogues onde encontro sempre palavras doces, sensatas, de vidas normais com pessoas normais. E por tão simples que são, encaixam sempre na perfeição no momento que estou a viver, na situação que estou a passar.
O dia está lindo, diria até maravilhoso. Está sol, um sol suficientemente forte para aquecer os corações mais tristes. Um céu incrivelmente azul que nos deixa a sonhar e nos trava as lágrimas que por vezes querem escorrer pela cara cansada, triste e cheia de novas rugas que vão entretanto surgindo. Há quem lhes chame rugas de sabedoria mas eu diria que são rugas de preocupações.
Ter um filho é isto mesmo. É viver para ele. Sofrer quando ele sofre, chorar quando ele chora, sorrir quando ele sorri. E como sorri a minha filha. Doce, alegre, bem-disposta, é um anjinho.
Tomo um café, e como me sabe bem o café. Abro o caderno que comprei à Rosa e Canela onde leio “Positive Life”. Faço as listas do costume, os pontos essenciais para o baptizado. Respiro fundo, endireito as costas, escrevo com a minha caneta preferida. Faço planos para o futuro. Tento não fazer muitos. Tento viver os dias um de cada vez. Já pensei muito a longo prazo, agora não. Agora tento (por vezes não consigo, mas lá está, tento) viver de forma mais tranquila e pensar só no dia de hoje. E no de amanhã, pronto.
 

 
 
Sofia, quase quase 7 meses. Adora a papa que lhe dou ao lanche. A sopa é que é mais complicado. Alergia à batata, à cenoura? Ainda não sabemos. Sorri para toda a gente, adora passear e colo. Já se senta, durante alguns longos segundos. Depois estica-se e cai para o lado. Leva o dedo do pé à boca. Ri-se às gargalhadas quando finjo que a vou enfiar pelo espelho.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

perfeição

per·fei·ção
substantivo feminino

    1. Acto de acabar ou aperfeiçoar alguma coisa.
2. O grau de excelência, bondade ou beleza a que pode chegar alguma coisa.

"perfeição", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
 
A Maria João Clavel escreveu e eu aplaudo de pé. Vivo angustiada com este estado de perfeição. Penso sempre que não sei fazer bem, não estou a fazer bem. Quero ser sempre a melhor, a maior. Ter respostas para tudo, no tempo certo, na altura certa. Obviamente que isso não é possivel, nem tão pouco fácil. Somos mulheres, humanas, feitas de carne e osso. Erramos, fazemos de novo, melhoramos.
 
Podemos ser melhores? Podemos.
Somos perfeitas? Não.
Sabemos tudo? Nem pensar.
Somos o melhor que sabemos e podemos? SEM DÚVIDA.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

baptizar

bap·tis·mo |bàt|
(latim baptismus, -i, do grego baptismós, imersão)
substantivo masculino
1. Imersão ou aspersão de água que as igrejas cristãs consideram como o primeiro dos sacramentos. (Na Igreja católica também o baptismo dos sinos, dos navios, das pontes, etc.)
2. Acto de baptizar.
3. Acto de pôr nome a pessoa ou coisa.
4. Primeira experiência numa actividade ou no conhecimento de algo. = INICIAÇÃO
5. [Figurado]   [Figurado]  Adulteração dos vinhos e do leite, deitando-lhes água.

"batismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
 
Agora que definimos a data para o baptizado, seguem-se dias de alguma agitação para tratar de tudo o resto. Tenho uma lista, aliás, tenho um caderno onde vou escrevendo e apontando coisas que me lembro e outras que são importantes para este dia. O objectivo é que seja um dia entre amigos, num ambiente descontraído, numa cerimónia simples e bonita. Tinha pensado numa espécie de piquenique, com toalhas e almofadas no chão, com mesas corridas e cadeiras espalhadas. Nada de sítios marcados, nada de mesas redondas com flores a ornamentar o meio, nada de gravatas, porque a festa é de uma criança. O problema é se chove. E se chove há que ter um plano B. Mas vamos por partes. Padrinhos convidados. Data e igreja escolhida. Esta semana vamos tentar encontrar o sítio para os comes e bebes. Entretanto, na minha lista de fornecedores, já contactei a Rita da Catita Illustrations e a Ana do Petiscos e Miminhos. Gosto e identifico-me com o trabalho delas.
Ando a passear pelo Pinterest em busca de ideias.
 












 

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

simplificar

sim·pli·fi·car
verbo transitivo
1. Tornar simples ou mais simples.
2. Tornar menos complicado.
3. Reduzir a termos menores (fracção).
verbo pronominal
4. Tornar-se simples ou menos complicado.

"simplificar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

 
Confúcio dizia que “o homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude”. Mas tudo isto se torna confuso quando não sabemos como.
A vida que idealizei para mim, ainda miúda, deitada nos campos amarelos de trigo a ouvir os grilos entra e sai da toca e de pés descalços para sentir a erva seca a estalar por entre os dedos queimados pelo sol e escuros pela terra, não está muito longe daquela que sonhei.
Sonhadora nata, com mais caminhadas pela lua do que pelo chão de lousa negra da cozinha, fazia grandes filmes sobre casamentos, filhos, casas, empregos. Queria casar-me na igreja com um véu de renda. Queria ter 3 filhos. Queria uma casa com jardim atrás, espaço para um baloiço e umas ervas aromáticas. Queria um emprego das 9h às 6h numa secretária (sim, eu sei que provoquei urticária aos meus leitores trabalhadores freelancer, que eu admiro imeeeeeeenso, mas era realmente isto que eu desejava). Vistas as coisas, consegui tudo, à exceção dos filhos que ainda só tenho uma. Ainda.
Não fui habituada a ter tudo. Muito longe disso. E ainda bem. Restava-me a imaginação e muitas horas a olhar para o céu para fazer muitas conquistas. O verão que durava 3 meses era passado nas praias de Gaia (tão longe de casa mas as mais próximas), na casa da avó, nas explicações da tia Susana a fazer cópias, ditados e a tabuada até aos 9, a apanhar pinhas para o Inverno, a fazer cross com o meu irmão na bicicleta que ganhei na comunhão, a brincar às escondidas até às 10 da noite (hora limite para evitar o chinelo da minha mãe). A vida era simples, mesmo muito simples. Éramos crianças a valer.
Agora que sou crescida, no alto dos meus 1.64cm, e a ver crescer uma filha, só gostava que a vida fosse mais simples. Sim, eu sei que a nossa vida é aquilo que fazemos dela, mas às vezes não dá, às vezes é bem complicado, às vezes não sabemos para que lado nos virar, qual polvo tonto que perdeu o seu caminho.
Simplificar é difícil, mas não impossível. É este o meu lema e é esta a minha missão para o futuro. Não esquecer nunca de onde vim, onde estou e para onde vou.

 
 
Nós, os nossos pés, a nossa praia, o nosso amor, o nosso norte de água gelada.