quinta-feira, 28 de maio de 2015

da vida e suas histórias

Ontem, no talho, enquanto o empregado me servia 200 g de fiambre de perú, fininho, e 200 de queijo, dizia-me que o mundo está carente de abraços e beijinhos. Como se não chegasse, ainda rematou com um "vivemos num mundo cada vez mais egoísta e solitário menina, é o que lhe digo". Abanei afirmativamente com a cabeça ao mesmo tempo que abanava o carrinho onde a Sofia dormia. Paguei e saí para o bafo quente de um final de tarde nada primaveril. Dei mais umas voltas pelo nosso bairro e fui a pensar naquilo enquanto empurrava a pequena de pernas brancas ao léu.
Carecemos de positivismo, de confiança, de bem estar connosco e com os outros. Carecemos de iniciativa, de saber perdoar, de dar sempre a volta ou as voltas necessárias para chegarmos ao destino que sonhamos. Carecemos de amor próprio, de amor pelo próximo, de amor pela simplicidade da vida. Procuramos incessantemente a felicidade quando, muitas das vezes, ela está tão perto, tão quente, tão quase a queimar-nos o peito. Porque a felicidade é olhar pela janela da cozinha e ver a lua a nascer; é esticar as pernas na cama e espreguiçar o corpo; é tomar um banho e passar água fria nas pernas; é andar descalça pela casa; é tomar um café com o sol nos pés descalços.
Ser feliz dá trabalho e nem todos nascem com disposição para tal. É mais fácil queixarmo-nos, atribuir culpa a tudo e todos. É dificil, mas vale a pena, vale muito a pena.
Por isso, em jeito de homenagem ao empregado do talho, deixemos o egoísmo de lado e abrecemos este novo dia que acordou quente. Usemos a boa disposição como um mantra para a nossa vida. Rir, rir muito, principalmente de nós. E abraçar quem amamos, abraçar e beijar.


semana 22/52

Já tens 3 meses. Continuas um doce. Uma menina calma, alegre, com um sorriso rasgado pelos olhos azuis cinzentos. Cabelo vasto, macio, com um cheirinho que só nós sabemos. Tens a pele branca. Pesas quase 6 quilos e eu penso nos dias que irei estar sem ti durante o dia, quando regressar ao trabalho. Não quero pensar nisso agora.





semana 21/52

Cresces e nós crescemos contigo. Todos os dias nos dás um sorriso quando acordas e o nosso coração derrete. És a melhor coisa que nos aconteceu.


 



terça-feira, 12 de maio de 2015

semana 20/52

Estás cada vez mais parecida com o teu pai.


Crónica 1 - As coisas que eu faço antes das 13h30



Escrevo enquanto ela dorme, serenamente. Pensarão vocês que tenho montes de sorte e que dá para escrever crónicas e afins. Pois, a notar pelo número de posts que aqui publico, dá para perceber que o tempo é escasso, certo? Certo.

Desde que acordei, às 7h30, já: tomei o pequeno-almoço; pus roupa a lavar; dei de mamar que entretanto ela começou a chorar; pus a arrotar; troquei a fralda; trouxe-a para a cozinha e coloquei-a na espreguiçadeira com o canal Panda ligado (ela não percebe nada daquilo, mas o som deve distraí-la); tomei um café; ela começa a choramingar e eu tenho a certeza que é sono e coloco-a na cama a dormir; adormece; a roupa já lavou e vou estendê-a (aproveitar o calor que isto está bom para secar); lavo a louça do pequeno-almoço; deambulo 10 minutos pelas contas do Instragram; ela chora e eu ponho-lhe a chupeta; cala-se e continua a dormir; massagem na cabecinha por causa da crosta láctea (ela gosta e não acorda com isto); lavo a casa de banho que não é limpa há 2 semanas; ela acorda; preparo tudo para lhe dar banho (às vezes damos banho antes dela dormir, outras vezes eu dou-lhe assim, antes de almoço, que ela também gosta). Está bem disposta o que é bom, dá para fazer as coisas com mais calma. Shantala com água à temperatura ideal (obrigada termómetro, se bem que com o tempo já mergulhamos a nossa mão e dizemos “está booooa”), despi-la e enfiá-la no balde. Sorri, bebe a água do banho (isso, minha filha, o que não mata engorda), lavo bem a cabeça para sair os últimos residuos de crosta e está pronta. Seco-a, espalho creme no corpo (é aproveitar que isto hoje dá para tudo) fralda, body e um vestidinho que afinal está calor e eu não quero a menina com bolhas. Começa a chorar, muito, e eu ainda não acabei todas as tarefas maternais. Finjo que não ouço e termino tudo. Sento-me e enfio-lhe a mama na boca. É remédio santo e a menina tinha razão, já tinham passado 3 horas. 10 minutos numa, arrota. 10 minutos noutra, demora mais tempo mas também arrota (e altos que são os arrotos!). Adormece. Deito-a e ela nem pestaneja. Agora eu. Siga para o banho, sempre com os ouvidos no quarto. Vestir qualquer coisa decente, que já era quase meio-dia e ainda estava de pijama. Preparar o almoço, melhor dizendo, aquecer qualquer coisa para o almoço. Dá para almoçar descansada. Hoje dá. Arrumo a cozinha. Lavo uma roupa dela, que tem de ser sempre à parte, e reparo nas minhas mãos secas, ásperas, com pequenas feridas entre os dedos. É da água e detergentes, penso eu. Ela acorda, dou-lhe novamente de mamar. Ponho-a novamente a arrotar. E adormece de novo. Vida santa, a dela.

São 13h30 e o meu dia ainda vai a meio. Enquanto escrevo ela dá um chorito mas eu não vou à primeira. Talvez tenha caído a chupeta, talvez tenho feito cocó, talvez tenha dado um puzito, talvez tenha tido um sonho mau. Calou-se. Ainda bem que não fui.