quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

alicerces da vida

Não tenho a ilusão de ser feliz todos os dias, a toda a hora, permanentemente. Mas desejo tornar os nossos dias um bocadinho melhores, mais felizes e um bocadinho mais bonitos. Nem sempre consigo e nem sempre aquele raio de sol consegue trespassar a nuvem. Mas pelo menos vou tentando.
O compromisso que repito para mim todos os dias é o de não deixar de acreditar, de ter a certeza que depois dos dias menos bons vêm dias incrivelmente melhores. É ter a certeza que aconteça o que acontecer o nosso amor estará lá, naquele lugar protegido de tudo, onde só cabe e se aguenta um grande amor.
Aprendo a levantar-me todos os dias com uma atitude um bocadinho mais positiva. A encarar as dificuldades com o peito aberto. E se, de vez em quando, essa atitude não aparece, eu tento encontrar conforto na certeza das nossas decisões.
Dou graças pelo dia em que as nossas vidas se cruzaram, naquela noite fria de Dezembro, na cidade dos arcebispos. Dou graças pelo sentido que temos tentado dar às coisas, pela paz que tentamos ter nos momentos de maior ansiedade. Pelas dúvidas que deram lugar a certezas.
A minha serenidade consegue-me quando sinto que nada consegue abalar isso.
Assim como numa casa em que os alicerces têm de ser sólidos e firmes, também numa relação isso deve ser construído para que, independentemente das tempestades, dias maus, chuva ou trovoada, o amor prevaleça e a segurança nos faça sentir que vale a pena. Que o caminho que estamos a trilhar vale mesmo a pena.
 
 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

turbilhões

Quando era miúda, pequenina mesmo, colocava uma almofada na barriga, debaixo da camisola, e ficava a contemplar-me ao espelho. Pensava que um dia teria uma barriga de grávida a sério. Vieram os meus primos e consegui ser uma espécie de mãe para eles. Diziam os meus tios que eu tinha nascido para lidar com as crianças e, no fundo, eu sentia e sinto que é no meio das crianças que me sinto bem.
Agora chegou a minha vez. Agora é a sério e serei mãe a sério.
O maior presente de Natal que alguma vez imaginei é este. De valor infindável, de amor sem igual, de incerteza sobre o que se passará daqui a 2 meses.
Passa tudo muito rápido. A vida passa-nos entre os dedos. A agenda é folheada vezes sem conta, sempre com pontos por fazer, pontos feitos, ideias, sugestões, to do lists. Não consigo viver sem esta organização, que se por um lado é essencial para a minha vida, por outro não deixa de me criar ansiedade em querer fechar tudo, no tempo certo.
São muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo. São muitas emoções para gerir, decisões para tomar, contas para fazer, despesas ainda a gastar.
É neste turbilhão que a nossa vida está mas nem por isso deixo de andar sossegada e feliz.
 
Fotografias de um sábado no Porto. Quase 29 semanas...
 


 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Cartas à Sofia #3

28 semanas. Hoje faz 28 semanas. Mexes-te muito, principalmente à noite ou quando o pai me coloca a mão na barriga. Continuas a deixar-me dormir a noite toda, o que só é bom. Já sinto algumas dificuldades em me mover na cama, por isso, quando me deito para a esquerda, aí permaneço até de manhã.
Já li os livros todos (uns 10) e agora esperamos por ti. Já temos umas gavetas cheias de roupa linda para te vestir. De casaquinhos de lã feitos pelas mãos da avó, de imensas fraldas bordadas e personalizadas pela tia, de mantas, quentinhas, quentinhas, de lençóis que eram da cama da avó e foram bordados pela bisavó.
Continuas a ser uma menina doce, de certeza que serás doce. Tens dado uma gravidez de sonho à tua mãe que nada tem para se queixar.
O curso de mandarim já acabou. O teu pai continua muito preocupado com a casa que estamos a construir. O tempo está frio, muito frio. Já fizemos a árvore de natal e tens uma meia dedicada a ti. Para o ano teremos o teu sorriso quando ligarmos as luzinhas de Natal.
O ninho que estamos a preparar para ti está quase completo. Faltam umas pequenas coisas, nada de mais. Só faltas mesmo tu.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Do que a vida nos vai trazendo

Se me dissessem, há 4 anos atrás, tudo aquilo que agora tenho/consegui/estou a viver, não acreditava.
Porque nestes 1460 dias tanta, mas tanta coisa aconteceu, que por vezes confundo a realidade com o sonho.
Conhecemo-nos. Namoramos. Viajamos. Conhecemos sítios novos. Conhecemo-nos cada dia mais um bocadinho. Casamos. Fomos viver juntos. Decidimos que queríamos construir uma casa, da mesma raiz que nascem as árvores. Começamos a construir. Decidimos que queríamos ter um filho. A Sofia vem a caminho.
2015 será, mais uma vez, um grande ano. Nascimento da menina. Mudanças para a casa nova. Uma vida a 3.
Há 4 anos atrás eramos já crescidos, é verdade, mas mais miúdos. Crescemos, muito. A vida tem-nos colocado equações que tentamos todos os dias resolver. E resolvemos.
O que dá verdadeiramente sentido à vida são estas questões. É aquele olhar que acaricia. É aquela palavra que reconforta. É aquele beijo que aquece. É aquela mão que nos descansa. É saber que só assim a vida corre com um sentido, numa marcha que se quer por vezes lenta outras vezes rápida. Nem sempre o rio tem a limpidez para espelhar o céu azul e nem sempre as margens suportam as adversidades de um dia de tempestade, margens que transbordam e água que sai do seu trajecto. Mas com paciência e uma boa dose de compreensão, tudo pára, tudo sossega e o rio baixa o seu caudal.
São as certezas das decisões que tomamos/estamos a tomar que nos permitem dizer, com a alma cheia e o olhar sincero, que somos felizes.
 
 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Cartas à Sofia #2

Querida Sofia,
Os dias continuam muito cinzentos e de chuva. Dizem os livros que por esta altura já tens sensibilidade à luz do mundo externo, mas com dias tão escuros não te deves preocupar com isso.
O teu pai sonhou esta semana que te tínhamos colocado nos escuteiros com 2 meses. Imagina. E que ele estava conduzir para te irmos ver ao acampamento.
Eu fui fazer o exame da glicose, aquele que muitas mães se queixam que não conseguem e dizem que o sumo é insuportável. Correu muito bem. Devo dizer-te que o sumo de laranja (podia escolher laranja ou limão) era bastante agradável e que consegui estar 3 horas no hospital a tirar sangue de hora a hora. Amanhã já levanto os exames e vamos ver os resultados.
Continuamos muito ocupados na nossa vida. O teu pai preocupado com a casa que estamos a construir. Dá muitas dores de cabeça, sabes? Todos os dias aparece uma chatice, uma decisão que temos de tomar, uma reunião. Dias nada fáceis. Eu continuo no mandarim e ontem tive um teste surpresa. Parece coisa de miúdos, não parece? Na segunda feira é teste a sério.
Às vezes, muitas vezes, sinto-me culpada por não te dar aquela atenção que talvez precisasses. Por não falar contigo quando dizem que devemos falar. Por não ter a loucura das mães que leio que vivem os dias a comprar roupas e roupinhas, vestidinhos, lacinhos. De basicamente te ter apenas comprado um pijaminha (tudo o resto ou é feito ou comprado pela tua tia Inês ou avó Isabel). De não tirar fotografias à barriga que está tão grande. De não fazer sessão de grávida e outras tretas que entretanto vão inventando neste mundo da gravidez. Talvez porque algumas coisas ache uma treta. Deve ser isso.
Dizem que tenho uma barriga muito bonita. Que estou igualmente bonita. E que nem ando à grávida nem nada (vá lá saber o que significa J).
Para a semana faço 35 anos. Não gosto de fazer anos. Não pela idade, mas pelo dia em si. Não gosto dos imensos telefonemas, dos imensos beijinhos, da imensa atenção. Quero sempre que o dia passe bem rápido. Sou assim, não sei porquê. Gostava de ser diferente. Mas na verdade não consigo.
Ainda falta mais de uma semana para te vermos outra vez naquele ecrã que aprendemos a decifrar. Para vermos o teu peso, a tua altura, os teus órgãos, os teus ossinhos. Para confirmarmos que estás a crescer bem e saudável.
Daqui a pouco a casa enche-se com o espírito de Natal. Este ano, apesar de ainda não te termos nos braços, vamos colocar 3 meias na árvore. Quem sabe o Pai-Natal não te vai deixar lá uma prendinha!

terça-feira, 18 de novembro de 2014

340 m2 de Filosofia e berbicachos

Tomada a decisão de construir uma casa, demos início à exigente tarefa de escolher um arquitecto que a desenhasse. Uns meses mais tarde percebemos que deveríamos ter começado o processo por outro lado, mas essa história fica para depois. Ludwig Wittgenstein, filósofo habituado aos mais complicados conceitos físicos e metafísicos, ocupou uns anos da sua vida a construir uma casa em Viena. No final afirmou sem reticências: “consideram que a Filosofia é difícil mas digo-vos que ela não é nada quando comparada com a dificuldade de ser um bom arquitecto”. Não querendo ir tão longe (experimentem ler um texto de Wittgenstein para ver o que é bom para a tosse), concordo que a tarefa é espinhosa. Lembremo-nos que a função de um (bom) arquitecto não é apenas tratar da arquitectura mas coordenar todos os projectos necessários, a maioria dos quais da responsabilidade de outros expertos (engenheiros, normalmente; todos expertos mas nem todos espertos). Não adianta desenhar uma casa muito bonita para depois descobrir que, com aquela disposição das assoalhadas, os canos do cocó, do xixi e do vomitado do filho adolescente teriam de atravessar a mesa de jantar. Ou que a chaminé da lareira teria de ficar encostada aos pés da cama do mais novo. Assim de memória, consigo lembrar-me de uma boa dúzia de projectos (ditos de especialidade) que passeiam comigo diariamente entre a casa onde vivemos, o escritório onde trabalho e a casa que estamos a construir: o projecto de estabilidade, o projecto de águas pluviais, o eléctrico, o térmico, o de saneamento, o projecto de ventilação, o projecto da rede de gás, e não continuo para não vos maçar. Até o “barraco” onde vão estar os recipientes para separação do lixo precisa de um projecto autónomo. E no âmbito da arquitectura propriamente dita, para além daqueles desenhos que todos conhecem (plantas, alçados, cortes), há dezenas de folhas com pormenores de portas, grades, chaminés, tectos, rodapés, espelhos, armários, portões, casas de banho, etc., etc., infinitos etc. Só faltou que me medissem o rabo para definir o formato das sanitas. Coordenar e conjugar tudo isto é do caraças, e “caraças” não é exactamente a palavra que me apetecia utilizar.
O nosso método de “recrutamento e selecção” de um arquitecto foi, inicialmente, de uma racionalidade quase científica. Era necessário encontrar um profissional que confiasse nas suas capacidades mas que estivesse disponível para ouvir as nossas ideias; imaginativo mas que não comprometesse o indispensável pragmatismo; que tivesse dotes de artista mas sem os caprichos dos artistas; que fosse requintado na escolha dos materiais mas que tivesse a capacidade de encaixar um “não” caso os requintes se mostrassem demasiado dispendiosos. Em resumo, que fosse muito bom mas não tão bom que nos levasse à falência. Eram estes os critérios teóricos que tínhamos à partida; na prática, a escolha do arquitecto foi feita de acordo com o mesmo método que utilizamos em muitas outras decisões das nossas vidas não relacionadas com a construção civil, da compra de um cavaquinho novo à contratação de uma mulher-a-dias: falar com amigos e conhecidos para sacar referências, e siga.       
O terreno que já tinha feito parte de um campo de cultivo comprado por uns contos de réis ganhos na Venezuela pelo avô apresentava algumas condicionantes a ter em conta. Oferecia-nos desafios interessantes, como gostam de dizer aquelas pessoas dinâmicas, optimistas e com atitude vencedora, entre as quais, infelizmente, não me incluo. Para mim aquilo eram mesmo berbicachos. Em primeiro lugar era relativamente pequeno, cerca de 340 m2 de área total. Tinha também uma área de implantação autorizada que era, à falta de uma palavra mais simpática, ridícula. Por último, sendo destinado a uma casa com 3 pisos, em utilizando a distribuição usual (garagem na cave, zona social no rés-do-chão, quartos no 1º andar), obrigava a uma rampa de acesso automóvel muito acentuada. Refiro-me a um daqueles declives em que quando vamos a sair só vemos a frente do carro e o céu. Sim, uma daquelas subidas que as senhoras fazem em alta velocidade para não correrem o risco do automóvel parar a meio e terem de aplicar o temido ponto de embraiagem, ponto que demoram quase tanto tempo a descobrir como o que os homens precisam para encontrar o ponto G (brincadeira, brincadeira… a Andorinha é uma excelente condutora). Mas adiante. O primeiro berbicacho não tinha solução, o terreno não esticava; o segundo foi resolvido a troco do pagamento de umas centenas de euros em taxas, promovendo uma alteração do loteamento junto da respeitosa Câmara Municipal; a maneira como se resolveu o problema dos declives fica para um outro capítulo. Até à próxima, se Eu quiser.

Andorinho               
 
 
 

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cartas à Sofia #1

Querida Sofia,
 Os teus pais têm andado muito atarefados com a casa que estão a construir e para onde iremos morar quando tiveres uns 5 ou 6 meses. Até lá, vamos viver os 3 no conforto daquele apartamento virado para sul e poente.
A tua mãe decidiu inscrever-se no mandarim e, 2 vezes por semana, sai do emprego e fica a aprender uma nova língua até às 22h. Nesses dias chega a casa muito cansada, mas tem sempre o teu pai de braços abertos para a receber.
O teu pai divide-se entre o trabalho e reuniões com os especialistas. Carpinteiro, electricista, picheleiro, o senhor do aquecimento. Todos os dias de manhã, lá para as 8h, está na obra. Agora que a hora de Inverno se instalou, e o mau tempo com ela, não dá para fazer nada ao fim do dia.
Na terça-feira o teu pai diz que sentiu muito os teus pontapés à noite. Durante o dia também os sinto, principalmente depois de almoço.
Só te iremos ver numa nova ecografia no fim deste mês. Até lá, ainda vou fazer análises ao sangue e também umas muito chatas da glicose.
A tua tia Inês e a tua avó Isabel têm-te feito coisas tão bonitas. Tens vestidos de malha, casaquinhos quentinhos, fraldas e lençóis personalizados. E carapins, pequeninos, pequeninos.
Temos um berço branco e alguns bonecos a enfeitá-lo. No fim-de-semana estivemos a arranjar espaço naquele apartamento virado para sul e poente para colocar a tua roupinha. Alguma roupa nossa teve de ser dividida entre a casa da avó Catarina e a casa da avó Isabel.
As senhoras aqui do emprego dizem que estou uma grávida muito bonita, mesmo com estes quase 72 quilos.
Agora que te escrevo, e que ouço a música clássica que o teu pai me enviou, dás sinais da tua existência. E é bom sentir-te.
Irás trazer muita alegria às nossas famílias que será a tua família. Grande. Cheia de amigos, tias e tios, primos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

No princípio era o Verbo e um terreno cheio de mato

 
 
No princípio era o Verbo e um terreno cheio de mato. Terreno que já tinha feito parte de um campo de cultivo, campo de cultivo que tinha sido comprado na década de 60 por uns poucos contos de réis, contos de réis que tinham sido ganhos na Venezuela, Venezuela que tinha sido o principal destino de grupos de homens daquela terra que ambicionavam uma vida melhor, grupos de homens aos quais se tinha juntado o meu avô.
Depois vieram os anos 80 e o tempo das vacas que sendo ainda magras nos parecem agora gordas. E a agricultura de subsistência deixou de estar na moda. Os campos que inundavam os arredores das grandes cidades pareciam pequenos para acolher todos os que fugiam do interior. Era preciso arrancar o milho para dar espaço às marcações dos topógrafos, deitar abaixo as vinhas para assentar os paralelos, desviar os ribeiros para construir os ramais da água, e as sarjetas, e os colectores dos resíduos da civilização. O campo de cultivo comprado pelo meu avô com os contos de réis ganhos a troco do suor deixado no solo de Caracas não resistiu ao espírito do tempo. Em breve estaria transformado, primeiro num projecto, depois num alvará de loteamento e, finalmente, numa urbanização com uma dúzia de lotes, alguns deles com destino marcado desde a primeira hora. Um constituiria o pagamento do arquitecto, outro o pagamento do empreiteiro; economia de troca directa no Portugal da CEE.
Ao longo dos anos venderam-se mais alguns, ficando sempre de reserva o espólio da herança. O meu avô era homem avisado, e as famílias felizes só são todas iguais até à altura das partilhas. Dos avós até aos netos, o título de propriedade do terreno da fotografia transferiu-se mais rapidamente do que seria desejável. E também, olhando para as estatísticas da esperança de vida, mais rapidamente do que seria expectável. Aguardaria de bom grado mais umas décadas pela invejada condição de “proprietário”, mas ainda não somos nós, seres humanos, os decisores destas matérias.
A vida num T2 é bastante prazenteira para um casal sem filhos. Não é demasiadamente pequeno para o sonho de um homem – ter um escritório onde possa estar sossegado – , nem demasiadamente grande para o sonho de uma mulher – ter a casa arrumada. Com crianças, tudo muda. Se for apenas uma, sacrifica-se o sonho do homem e o sonho da mulher e o assunto está resolvido. Se forem duas, sacrifica-se tudo, o assunto fica na mesma por resolver, mas tudo se consegue com “o amor”. Se forem três, cortam-se os pulsos. Mas depois voltam-se a coser, porque nas “ilhas” do Porto vivem mais pessoas em espaços mais pequenos. Adiante. Eu e a minha mulher, a minha mulher e eu, e vice-versa, resolvemos colocar o carro à frente dos bois e procurar casas maiores antes de nos dedicarmos à santa tarefa da procriação. Aliás, o carro ficou tão à frente dos animais que o puxam, que decidimos procurar casas antes até de perder 5 minutos no famoso exercício especulativo “quantos filhos queremos ter”! Como era de esperar, em pouco tempo estávamos numa encruzilhada: um T4 novo é muito caro, um T3 pode não chegar; se comprarmos um T4 usado e depois só tivermos um filho, vamos ficar arrependidos de não ter comprado antes um T3 novo; se comprarmos um T3 novo e depois tivermos dois filhos, vamos ficar arrependidos de não ter comprado antes um T4 usado; se comprarmos qualquer um dos dois e acabarmos por ter 3 filhos, lá se vai o escritório e os pulsos do homem. E foi assim, no meio destes dilemas, que surgiu a ideia de construir uma casa no terreno que já tinha feito parte de um campo de cultivo, e que tinha sido comprado por uns contos de réis, ganhos na Venezuela, pelo avô, em troca do suor…, etc., etc. É dessa aventura que vos vou falar nos próximos textos. Que serão publicados semanalmente, ou não. Que estarão acompanhados por fotografias, ou não. Que escreverei até a casa ficar pronta, ou não. E agora que vos deixei descansados no conforto das grandes certezas, despeço-me com amizade e com duas paletes de cimento-cola.
 
Andorinho               

terça-feira, 4 de novembro de 2014

porque nem só de fotos vive uma casa...

Como sabem, eu e o meu marido (a quem vou apelidar de Andorinho) estamos a construir uma casa. Uma senhora casa. Uma dona senhora casa.
Tenho tentado registar os vários momentos em fotografia. Desde o início de tudo, desde aquela primeira pedra que se atira, desde aquele campo de cultivo cheio de mato, borboletas, ratos e outros animaizinhos que tiveram de ir viver para outro sítio, que vou registando o quanto posso e quando posso.
Mas estava a faltar mais conteúdo. Quero com isto dizer, texto. Estava a faltar passar para o papel tudo aquilo que temos vivido ao longo deste mais de 1 ano.
Por isso, a com o contributo do meu marido, irei publicar amanhã o primeiro texto sobre a nossa aventura.
Vai valer mesmo a pena!

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

partir para poder chegar, ter menos para poder ser mais

Não teria nunca a coragem de largar tudo e viver despegada de muita coisa. Por mais que acredite na ligação que o nosso corpo tem com a natureza, mãe da criação, faz-me falta o bulício da cidade e só algumas vezes o bucólico do campo. A minha história é, até, bem ao contrário: sair da aldeia para uma cidade.
Mas isso não significa que não concorde com muitas das coisas que o campo e a aldeia nos dão. Como a paz e serenidade que encontramos num simples nascer do sol, ou no cantar do galo bem cedo.
Esta família que encontrei aqui fez isso mesmo. Partiu para poder chegar onde pouca gente consegue. Decidiu ter menos para poder ser mais, ser mais livre, despreocupada, desprendida.
"Toda a escolha é uma despedida”. Sempre que escolhemos um caminho, despedimo-nos de outro. Outro que não seguimos. Outro que optamos por não tomar.
Agora que a vida nos vai trazer um novo ser para criarmos e cuidarmos, dou por mim a pensar o quanto quero que esta criança seja feliz. O quanto eu acho que é importante passar-lhe os valores mais simples mas às vezes os mais difíceis. O quanto eu quero que ela brinque, brinque e volte a brincar, porque foi assim que eu tive a infância mais feliz de todas.
“(…) queremos que nossos filhos tenham a oportunidade de crescer respeitando a natureza (dos bichos, plantas e, sobretudo, dos homens) e com valores enraizados na simplicidade, verdade, honestidade e amor, muito amor. Sentimos que eles (e todos os outros que virão vida afora!) são crianças de espírito livre, cheios de luz e consciência. Obrigá-los a crescer na cidade, enjaulados em apartamentos, moldados pelo consumismo social e submetidos à uma educação tradicional nada inteligente seria, de alguma forma, negar toda a essência desses dois serzinhos (…)”.
De repente, é como se o relógio deixasse de ser regido pelos ponteiros sociais e diminuisse a velocidade para uma batida natural, calma e muito pessoal. A batida da felicidade.
No sítio onde vivemos, no sítio onde decidimos viver, temos de encontrar esta batida natural, este compasso bem marcado e não permitir a vida descompassada.
No sítio que estamos a construir para viver, os três, por enquanto, teremos de equilibrar este barulho dos sons que uma cidade liberta com a paz de um sorriso ou gargalhada. Com um pequeno-almoço no jardim, naquele espaço pequeno mas grande em valor que decidimos deixar ficar para que os teus primeiros passos sejam dados ali, quem sabe não gostes de ali correr descalça como a tua mãe tanto gosta.
Porque mais que o sítio, são as pessoas que fazem e trazem a felicidade ao nosso coração.
 
 
 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Compras para a nossa menina #1

Agora que sei que está tudo bem, aliás, sempre teve, que levamos 22 semanas no corpo, que a ecografia morfológica nos transmitiu muita paz e tranquilidade, que sabemos que é uma menina, começo a perder-me em sites e roupinhas e brinquedos. Na verdade, não me identifico com a maior parte das coisas que vejo. Gosto da descontracção, com poucos laços e pouco cor-de-rosa. Gosto de brinquedos simples. E tenho tendência para as cores neutras.
Já temos um berço, lindo, branco, emprestado por uns amigos. Por isso, com grande significado (para mim, que gosto sempre das coisas com significados).
A avó e a tia gastam horas a bordar e a fazer casaquinhos e vestidos de lã. Temos lençóis também bordados e personalizados.
Fiz uma lista do essencial, para não me perder muito e perceber o que necessita um bebé nos primeiros tempos.
Andamos serenos e felizes. A minha gravidez também tem sido mesmo assim: serena e feliz.
Estas peças maravilhosas foram feitas pela dupla avó/tia. A minha cunhada apelida a colecção de Puqui. E por isso, assim seja. Apresento-vos a roupinha da marca Puqui:
 





No site A Venda, encomendei o Rabbit Mailed e o Bunny Mini Light Girl.
 


 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

dizem que vai ser uma menina

E que está tudo bem com ela! É linda e vive há 21 semanas dentro da barriga de sua mãe.
A médica apelidou-a de perrioqueira, tal era a animação que sua alteza se encontrava.
Continuo sem perceber muito bem o que é isto dela se mexer. Digamos que estava à espera de pontapés, e apenas sinto uma espécie de rebentamento de bolhas. Se calhar é mesmo isto e os pontapés são depois. De resto, tem dado uma gravidez santa à senhora sua mãe.
Aqui está ela. Apresento-a ao mundo:
 
 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

36 anos

Os meus pais fazem hoje 36 anos de casados. 36. O dia, segundo a minha mãe, está igual. Sol, calor (talvez não estivesse tanto). Ela diz que quando acordou sentiu aquele vento da serra. Aquele vento quente a adivinhar um dia que seria, isso eu sempre ouvi dizer, inesquecível. Na altura os casamentos eram em casa. Foi no quintal da minha avó, mãe dela. As cozinheiras repartiram-se entre algumas tias minhas (irmãs da minha mãe) e amigas. 3 pratos foram servidos e outras tantas sobremesas. Tudo muito bem regado. Estavam mais de 100 convidados, não sei se 110. Foram feitas mesas de madeira, daquelas compridas e corridas, toalhas brancas, compraram-se pratos, copos e talheres. Brindou-se à vida dezenas de vezes e o casamento acabou já o céu se encontrava completamente carregado de estrelas. Durante 3 dias os meus pais foram jantar a casa dos meus avós para comerem os restos do casamento.
Os meus pais fazem hoje 36 anos de casados. 36. E foram raras as vezes que os vi discutir. Se hoje acredito no casamento e na vida feliz a dois, é graças a eles e a tudo o que assisti enquanto vivi lá em casa. Se existiram dificuldades? Existiram. Muitas. Mas aqueles sorrisos na cara todos os santos dias, aquele optimismo que sempre tiveram, aquela força de trabalho que nunca os abandonou, ensinaram-me a ver tudo do lado positivo. Ensinaram-me que com pouco podemos fazer muito.
Os meus pais fazem hoje 36 anos de casados. 36. E eu respeito-os muito por isso. E fico feliz por sabê-los felizes.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Lado a lado e uma vida inteira pela frente

Juntos, estamos a construir uma vida, a trilhar um projecto. Juntos, estamos a tentar ultrapassar as dificuldades que nos surgem e a festejar os momentos bons que aparecem. Juntos, temos uma casa a ser construída, empregos onde temos de estar das 9h00 às 18h00, família a quem devemos dar atenção, amigos com quem vamos jantar e outros que dão força e apoio ao nosso projecto casa. Juntos, desde aquela noite muito fria de Dezembro, desde a primeira vez que demos as mãos, que temos tentado ser sempre um bocadinho mais felizes e fazer o outro mais feliz.
O pequenino que tenho dentro de mim, de vez em quando lembra-me que não estamos mais sozinhos, que daqui a mais ou menos 4 meses fará parte da nossa vida. Que à conta que até agora era feita como uma soma de 1+1, vai ser agora adicionada uma pessoa, uma pessoa muito, muito pequenina.
Nisto das relações, nisto do dia-a-dia, nisto da monotonia que são muitos dos dias que temos e nas adversidades dos outros tantos, há o amor. O nosso amor. E há a certeza, a certeza absoluta, que temos vindo a tomar as melhores decisões. E esperar que a fé e a sorte caminhem sempre ao nosso lado.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

fotografias do nosso bem pequenino

A Sónia é daquelas pessoas mesmo queridas, fofinhas, que dá vontade de abraçar. E, quando vemos o resultado final do seu trabalho, dá vontade de a abraçar forte e agradecer.
A Sónia já fotografou uma espécie de despedida de solteira que fiz, onde convidei todas as minhas queridas amigas e damas de honor.
E chegou a vez de fotografar o nosso bebé.
Como sei que ela tem sempre uma agenda preenchidíssima, já a contactei para que reservasse uma data ali entre meados ou fins de Fevereiro de 2015.
Se tudo correr bem, teremos fotos incríveis para mostrar. Fotos que transmitem tanto de um ser tão pequenino mas que a Sónia consegue transformar em grandioso.
Visitem o trabalho dela. Vale mesmo a pena. Porque ela é mesmo uma querida, acreditem! :)
 
 




as casas de banho

Serão brancas, com aquele aspecto clean, nórdico. Com pouca coisa. Porque muito é pouco.










segunda-feira, 13 de outubro de 2014

o Ikea sabe

Sejamos francos, é maravilhoso ser mãe ou pai pela primeira vez, mas também é um pouco assustador. Por isso os nossos berços são rigorosamente testados para garantir que estão de acordo com os padrões mais exigentes do mundo em termos de segurança. Têm todos rebordos arredondados e grades com espaçamentos seguros – e são feitos de materiais e acabamentos não prejudiciais. Além disso, os nossos berços adaptam-se ao seu pequeno que cresce a olhos vistos. Para que também possa dormir como um bebé.

 
E nós temos de dar um saltinho para vermos o berço e banheira e coisa e tal...
Já escolhemos a cadeirinha e o ovinho (que serão da Britax e agradeço a quem tenha experiência nestas coisas que fale de sua justiça).
Dividimos este tempo com as torneiras, sanitas e bases de duche que estão já escolhidas.
E ainda nos resta tempo para vermos soalhos e qual a madeira que queremos pisar durante muitos e bons anos.
Se isto não é organização, então não sei o que é! :)
 
Entretando, vou tirando ideias:
 






 

as hormonas

Impossível tentar compreendê-las, corrigi-las, alterá-las, evitá-las, porque elas, essas malvadas, aparecem sem pedir permissão.
Fica-se triste, outras vezes mal disposta, às vezes com mau feitio.
Fica-se a pensar porquê, quando é que se afastam de nós, quando é que nos deixam em paz para que possamos, com calma e de cabeça caída, pedir desculpa a quem possamos ter magoado, a quem tenhamos dito coisas menos boas ou, pior que isso, a quem não tenhamos dito nada do que era pedido.
A chuva, o frio, o facto de ser segunda-feira, não podem servir de desculpa para isso.
Há que erguer a cabeça, agradecer pela vida que temos, abraçar quem amamos, pedir desculpa e ser humilde, e esperar que a felicidade do costume e que está sempre presente em mim, consiga irromper aquela nuvem mais cinzenta e fazer brilhar algum raio de sol.
É o inicio de uma nova semana. E tanto ainda vai acontecer. Desde o curso de Mandarim que vou começar hoje às 20 semanas que o nosso bebé vai fazer.
É a vida a correr. É a nossa vida a correr.
 
 
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ter orgulho de quem fez/faz muito por nós

Agora que estou grávida, e apesar de ainda não ser mãe a sério, começo já a pensar e interiorizar que o papel de pais vai desde o muito desafiante ao preocupante.
Agora que estou grávida, imagino que educar um filho não será fácil. Transmitir-lhe tudo aquilo que temos, que somos, que nos ensinaram e que queremos para ele, ou ela, vai ser uma tarefa para a vida.
O mais importante para mim é que seja uma criança feliz. Porque quando somos felizes, tudo se torna mais fácil.
A minha infância foi assim mesmo, feliz. Fui criança a sério. A imaginação tratou de arranjar tudo aquilo que não tive. Nunca tive uma Barbie, um Nenuco, uma casa de bonecas. A primeira bicicleta era azul, bem de rapaz, velha, e foi dada por uns tios. No Natal recebia um presente. Um. Durante o resto do ano, divertia-me na rua, com muitas crianças, muito barulho, muita traquinice.
E apesar de não ter recebido muitos brinquedos (e achar que agora até se recebem brinquedos a mais), nunca isso foi um entrave para a felicidade de ser criança. Recordo, com saudade e nostalgia, todos os momentos que vivi naquela aldeia assente num vale. Os meus pais, à maneira deles, deram-me a liberdade que eu necessitava para “viajar” no meu mundo. Ensinaram-me palavras tão importantes como respeito, dever, obrigação, estudo, dedicação. E eu agradeço-lhes por tudo aquilo que sou hoje. Porque mais importante que o dinheiro ou bens materiais foi a capacidade que me passaram de ser uma mulher valente, destemida, que não desiste de ser feliz e fazer os outros felizes.