Quando a minha mãe ficava sem argumentos lógicos para exprimir o que sentia, depois de mais uma das minhas teorias vindas das entranhas aventureiras que possuo, soltava um leve e desgastado “ai esta rapariga, que não sei onde vai buscar estas ideias”. E eu ficava a olhar para ela, à espera de respostas, de explicações, de assertividade.
Pois nunca consegui obter respostas.
Recolhia-me no quarto, enquanto lá fora o Verão (sim, o verão a sério, que isto agora não é verão nenhum) estalava, durava, chamava por mim.
E lá fora ouvia também os emigrantes a chegaram. Aqueles meus vizinhos que nos brindavam com foguetes, músicas aos berros nos seus Audi’s, roupa "da moda", cabelos com madeixas (na altura não sabia o que isso era) e uma língua que eu sabia que não era minha e por isso tanto me fascinava. Durante 1 mês eu ouvia e não percebia. Sabia que era francês, e por isso punha-me a sonhar com França.
A minha amiga do ano inteiro esquecia-se que era minha amiga durante esse mês. Queria antes brincar com a prima francesa, menina ousada e com roupas giras.
E eu aproveitava para, durante esse tempo, acolher ao meu mais elevado grau de imaginação.
E sonhava com França e com outros países. Sonhava com o mar, com a areia nos pés e o corpo carregado de sal e cor escura como normalmente ficava quando era criança.
Por isso interrogava a minha mãe. Perguntava-lhe o que íamos fazer no verão. Mas as suas respostas assemelhavam-se sempre a ela, humilde e simples, quando me respondia que não iríamos fazer nada. Que eu tinha era de aproveitar para estudar.
Deitava-me na cama, persianas semi-fechadas (não queria dormir, mas também não era agradável tanto sol no quarto) e chorava. Não porque me faltasse qualquer coisa, não porque a minha mãe falhasse com qualquer coisa. Mas porque teimava em sonhar mais alto do que podia.
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