quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

assumir

 
 
 
O sinal ficou vermelho, mas nem precisava pois parada já eu estava. Ainda não consegui acertar a hora de sair de casa sem apanhar trânsito, mas julgo que depois das 9 é melhor. Adiante. Ao meu lado esquerdo parou um Yaris, cinzento, 5 portas, cadeira de bebé atrás, mas sem bebé. Possivelmente estaria já na creche, ou na avó. A conduzir uma rapariga. Loira, bonita, nova. Ao meu lado direito uma casa antiga, apetecível para recuperação, com uma folha A4 na janela a dizer “Vende-se”. A rapariga, também parada, mergulhou o olhar e a vida naquela casa. Imagino que estivesse a pensar como seria bom viver ali, numa casa, 3 frentes, quintal atrás, jardim à frente. Imagino que viveria num apartamento, um T2 ou um T3 no máximo. Imagino que já teria falado com o marido, enquanto jantavam, que gostaria de viver um dia numa casa ou moradia como lhe chamam. Olhei para ela e olhei para a casa. Possivelmente nem estaria a pensar nada disto, mas eu gosto de imaginar coisas e fazer filmes, pequenos filmes, com estas personagens que se vão cruzando comigo.
O sinal ficou verde e arrancamos, devagar, cada uma para seu lado. Ela olhou para dentro do meu carro, talvez porque tivesse sentido que eu a observava (já fizeram aquele jogo de olhar ininterruptamente para uma pessoa e ela depois olhar para vocês? Eu já. Muitas vezes. E funciona). O vidro da janela estava embaciado do frio de fora, mas consegui arrancar-lhe um sorriso cúmplice. Se calhar também imaginou que eu estaria interessada na casa. E se calhar até estava e também eu sonhei, durante uns bons 15 segundos, como seria reconstruir aquela casinha e ser feliz ali.
Entretanto, já que falamos de casa, a nossa está quase pronta. Nova, linda, branca como se quer, chão claro mesmo a combinar com um espirito nórdico que tento trazer para fora do meu coração.
 

3 comentários:

Joana disse...

Gosto tanto de momentos cumplices com estranhos :) e estou morta de curiosidade com a casa nova! Chao branco tambem é comigo; )

Melancia disse...

Fico feliz de não ser a única que imagino a vida e os pensamentos alheios

Maria disse...

oh acontece-me tantas vezes esses momentos :)