Não teria
nunca a coragem de largar tudo e viver despegada de muita coisa. Por mais que
acredite na ligação que o nosso corpo tem com a natureza, mãe da criação,
faz-me falta o bulício da cidade e só algumas vezes o bucólico do campo. A
minha história é, até, bem ao contrário: sair da aldeia para uma cidade.
Mas isso
não significa que não concorde com muitas das coisas que o campo e a aldeia nos
dão. Como a paz e serenidade que encontramos num simples nascer do sol, ou no
cantar do galo bem cedo.
Esta família
que encontrei aqui fez isso mesmo. Partiu para poder chegar onde pouca gente
consegue. Decidiu ter menos para poder ser mais, ser mais livre, despreocupada,
desprendida.
"Toda a
escolha é uma despedida”. Sempre que escolhemos um caminho, despedimo-nos de
outro. Outro que não seguimos. Outro que optamos por não tomar.
Agora que a
vida nos vai trazer um novo ser para criarmos e cuidarmos, dou por mim a pensar
o quanto quero que esta criança seja feliz. O quanto eu acho que é importante
passar-lhe os valores mais simples mas às vezes os mais difíceis. O quanto eu
quero que ela brinque, brinque e volte a brincar, porque foi assim que eu tive
a infância mais feliz de todas.
“(…) queremos que nossos filhos tenham a
oportunidade de crescer respeitando a natureza (dos bichos, plantas e,
sobretudo, dos homens) e com valores enraizados na simplicidade, verdade,
honestidade e amor, muito amor. Sentimos que eles (e todos os outros que virão
vida afora!) são crianças de espírito livre, cheios de luz e consciência. Obrigá-los
a crescer na cidade, enjaulados em apartamentos, moldados pelo consumismo
social e submetidos à uma educação tradicional nada inteligente seria, de
alguma forma, negar toda a essência desses dois serzinhos (…)”.
De repente, é como se o relógio deixasse de ser regido pelos ponteiros sociais e diminuisse a velocidade para
uma batida natural, calma e muito pessoal. A batida da felicidade.
No sítio
onde vivemos, no sítio onde decidimos viver, temos de encontrar esta batida
natural, este compasso bem marcado e não permitir a vida descompassada.
No sítio
que estamos a construir para viver, os três, por enquanto, teremos de equilibrar este barulho
dos sons que uma cidade liberta com a paz de um sorriso ou gargalhada. Com um
pequeno-almoço no jardim, naquele espaço pequeno mas grande em valor que
decidimos deixar ficar para que os teus primeiros passos sejam dados ali, quem
sabe não gostes de ali correr descalça como a tua mãe tanto gosta.
Porque mais
que o sítio, são as pessoas que fazem e trazem a felicidade ao nosso coração.
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