quinta-feira, 19 de setembro de 2013

DAS VIAGENS [OUR BIG TRIPS] 1

Caminhos de terra batida pelos pneus gastos de uma Toyota em fim de vida há já alguns anos.
Vista deslumbrante da savana, pincelada de castanho claro e amarelo.
Animais que pouco se importam com a nossa presença. Fingem não nos ver, continuam a sua vida. Tanto que tínhamos a aprender com eles e com esta sua indiferença perante humanos intrometidos.
Levanto o corpo moído da viagem e pendure-me no tejadilho daquela carrinha velha.
Preparo-me para ser atingida pelo cheiro lendário de África. Aquele que me garantiram que uma vez sentido é impossível esquecer. O cheiro das saudades de muitos, tantas e tantas vezes descrito aos meus ouvidos atentos. Inspiro profundamente, fecho os olhos. Inspiro outra e outra vez. Tento descodificar a profundidade do que cheiro. Não consigo decifrar. É uma mistura de plantas, flores, terra, animais, sons de aves.
Nem mesmo usando a sinestesia de Almeida Garrett “…delicioso aroma selvagem” encontro uma forma de o descrever.
Volto a fechar os olhos e a inspirar.
No horizonte o sol despede-se de nós. E é como dizem os livros: o pôr-do-sol em África é um acontecimento majestoso.
A savana adormece, e com ela adormecemos também.
Com o pensamento a transbordar de imagens, sons, momentos, experiências, preparamos o corpo e a alma para o dia seguinte.

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