Já foi há muito, muito tempo, por isso não consigo dizer se aconteceu no fim da primavera ou a meio do verão. Lembro-me que estava calor e vestia uma blusa cavada amarela com folhos nos ombros. Nos pés, nada. Adorava andar descalça. Tenho o recorte do jornal em casa dos meus pais, na gaveta da cómoda do sótão. Tão bem guardado quanto está esta história.
A mãe chamou-me, da varanda da cozinha. O seu indicador conduziu-me à serra que nos separa da vila onde passa o comboio. Em dias límpidos, ou depois de chuva, costumamos ouvir o som das carruagens. Chamo-lhes dias mágicos.
A luz que sobrevoava as pontas das árvores era intensa e estranha. Subiu, subiu, e continuou a subir até chegar bem alto. Depois parou, como que dizendo adeus, ou até já, ou foi um prazer, e desapareceu, foi-se, já era.
Fiquei com os olhos raiados de interrogações. A minha mãe, mulher céptica, achou a luz estranha. Só isso. Já eu, sonhadora, achei tudo aquilo especial.
No dia seguinte, no Jornal da Uma, percebi que não tínhamos sido as únicas, naquele fim de tarde quente, a ver aquela luz no céu estrelado e límpido.
Guardei na memória aquele momento e na gaveta da cómoda do sótão o recorte do JN. Nunca mais voltei a falar com a minha mãe sobre isto, talvez por medo da descrença dela sobre estes assuntos e que acabaria com esta certeza que tenho de termos visto uma nave espacial, ou especial, sei lá.
1 comentário:
Boa boa, andorinha! :-)))))
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