Tinha uns tios que vivam em Matosinhos. Lembro-me que o apartamento ficava muito perto da praia e chegamos a ir passar uns dias na altura do verão.
O meu irmão tinha talvez uns 2 anos. Por isso eu tinha 6. Depois nunca mais fomos. Eram eles que íam à aldeia.
A minha tia de Matosinhos era, aos olhos de uma criança de 6 anos, uma senhora muito chique, muito aperaltada, muito vaidosa e, aos olhos de uma criança de 6 anos, muito rica.
Porque usava roupas que a minha mãe não usava. Porque cheirava a água de colónia. Porque tinha uma pele tão mas tão macia que adorava quando ela se chagava a mim para me dar um beijinho.
Sempre que nos visitava, trazia qualquer coisa para nos oferecer.
Hoje vou falar dos lápis de cera que a minha tia me ofereceu.
Menina não habituada a ter muita coisa, quando me ofereciam algo era uma festa pegada.
Olhava e voltava a olhar. Tocava com cuidado. Manuseava ainda com mais cuidado. Queria que durasse toda a vida, aqueles lápis de cera. E ficava triste sempre que os levava à aguça.
Eles começavam a mingar mas os desenhos e sonhos que fazia com eles começavam a escrever.
Normalmente ela visitava-nos ao sábado à tarde. E talvez por isso (e por muitas outras razões) eu adoro os sábados à tarde.
Se era Verão, e como a minha mãe não nos deixava brincar ao sol depois de almoço e também nos punha a dormir a sesta, quando acordava pegava nos lápis de cera e desenhava.
Se era Inverno, e como a minha mãe não nos deixava brincar à chuva (se bem que eu brinquei muitas vezes), pegava nos lápis de cera e desenhava. No Inverno é que eu desenhava...
Nunca mais soube da minha tia. Nem dos lápis de cera que foram desaparecendo à medida que eu crescia.
Quer a minha tia (que já deve ter morrido pois na altura já era velhinha) quer os lápis de cera (que na altura já estava bem gastadinhos) fazem parte do imaginário de uma criança que foi, é e será sempre sonhadora.
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