Vestia-me com um vestido branco, imaculado, de um tecido fino e sedoso, com uns favinhos à frente torneados na cor azul.
Nos pés calçava-me umas sandálias, igualmente brancas, com um fivela elástica a apertar.
Com tudo branco, destacava-se ainda mais o meu tom de pele moreno.
Na cabeça não levava nada. Apenas o cabelo molhado, de alguém que tinha acabado de tomar banho, e uns cachos pretos como o carvão que mais pareciam um fole de acordeão quando eu corria.
Batiam as 7 badaladas da tarde no sino da capela e a minha mãe pegava em mim, colocava-me no cima da estrada de terra batida e dizia “Corre, filha, corre. Olha quem vem ali”.
E eu corria, limpa, branca, de sorriso rasgado, dentes pequeninos na boca, olhos escuros e brilhantes.
Levantava-se um ligeiro pó, pouquinho, pois mais não podia fazer uma criança tão pequenina de apenas 3 anos.
O meu pai abria os braços lá ao fundo. Para mim a distância era enorme. Agora sei que não seriam mais de 5 metros.
E eu abraçava-lhe o pescoço. A menina ficava num braço e no outro braço ele segurava um velho saco onde levava a marmita.
Levava-me para casa. Entrávamos os três. Era hora de jantar.
Eram bons os fins de tarde de verão.
Talvez seja por isso que ainda hoje sinto uma nostalgia pelos finais de tarde.
Talvez seja pela tarde que deixará de ser tarde ou a noite que ainda não é noite.
Talvez seja pela felicidade.
E continuam a ser bons os fins de tarde de verão.
Porque a felicidade, essa, teima em não desaparecer.
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