13h45. Era o horário da única camioneta da tarde que nos levaria para a cidade. Era véspera de natal e foi-nos concedida uma tarde inteira pelo Porto.
O nosso avô acompanhou-nos. Apesar de idoso, ainda se aguentava bem das pernas e muito mais da cabeça. Homem do campo, era grande conhecedor das ruas e vielas daquela grande cidade, onde trabalhou durante mais de 40 anos. Eu não cabia em mim de alegria. Disse várias vezes ao meu irmão, mais novo que eu, para nunca me largar a mão (os constantes recados da mãe preocupada não me esquecia eu). E lá entramos na camioneta.
Apesar de enjoar sempre, pois as curvas que nos separavam da cidade eram mais que muitas, nunca me distraía durante este percurso, e ficava a olhar embebecida para tudo o que se passava lá fora.
15h45. Era a hora de chegada ao Porto. Lá percorremos, em passo ligeiro, as ruas que nos levariam até à baixa. Era véspera de natal, caramba, estava tudo tão bonito que eu nunca tinha visto igual. Receei perder-me de tanto olhar para cima, menina pequenina que era e facilmente o meu avô deixava de me ver. Mas não. Eu nunca me perdia. Conseguia observar o mundo sem nunca perder o caminho. Andava tanta gente na rua. Desejei que os meus pais também estivessem ali. Chegados à baixa, andamos num autêntico frenesim de entra e sai das lojas. Tinha vergonha de pedir ao meu avô o que quer que fosse. A mim mãe alertou-me para eu não pedir tudo o que visse e comprar algo que precisasse. Eu achei que precisava de um guarda-chuva e por isso decidi pedir ao meu avô. Foi o guarda-chuva mais bonito que alguma vez recebi. Era branco, pequenino, com o Snoopy desenhado em preto. E foi isso. Um guarda-chuva. Ao meu irmão já não me lembro, mas julgo que foi um jogo com personagens da Disney.
De guarda-chuva na mão, continuamos a nossa viagem pelas ruas. Por mim, estava ali sempre. E era véspera de natal, caramba, e sabem como o Porto fica lindo no natal.
De guarda-chuva na mão, continuamos a nossa viagem pelas ruas. Por mim, estava ali sempre. E era véspera de natal, caramba, e sabem como o Porto fica lindo no natal.
19h00. Era a hora de regresso. Carregados de sonhos e lembranças na cabeça, as crianças retomavam a casa, pela mão deste avô velho, que tentou, pelo menos uma vez na vida, concretizar o sonho dos netos na véspera de natal. Na hora de jantar tentei contar à minha mãe o que tinha visto, e como tinha sido, e como era tudo aquilo.
Coloquei o guarda-chuva debaixo da árvore, onde se iria juntar, na noite de natal, a outra prenda que o Pai-Natal me iria trazer.
E fui para cama com a certeza que tinha dentro de mim algo especial. Aquelas férias de natal estavam a ser o máximo, e o meu avô era o maior do mundo.
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